sábado, 31 de maio de 2008

:: Diálogos Impertinentes

   

   - Gente, essa menina é doce, que coisa chocante!

   - Ela é um amor mesmo.

   - Não, não. Eu quis dizer literalmente doce. Ela tem cheiro de cana de açúcar, dá uma cafungada aqui! (aponta o cangote da pequerrucha)

   - Snif, snifff. Verdade. Tem um cheirinho doce.

   - Viu só? Como pode, meu Deus?

   - É que ela nasceu da união.

   - ...

   - Nasceu da União... sacou? É feita de União. O açúcar. Hã, hã?

 

Rá-rá. Eu me casei com um piadista.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

:: Das caquinhas

Existe todo um universo de nojices que a gente só descobre quando vira mãe. Na verdade a gente conhece enquanto é filho, mas só aprendemos a apreciá-lo devidamente quando mudamos de papel: se antes eu dizia “ai mãããe, nhé, que nojento, pára!”, com caretas e tudo mais, hoje sou eu que agarro a Alice e faço toda sorte de coisas nojentas com ela. Nojentas pros outros, claro, porque pra mim é sempre um prazer.

Não precisei nem de uma semana como mãe pra fazer a nojice materna mor: limpar a carinha dela com cuspe. Opa, uma sujeirinha aqui – e dá-lhe lamber o dedo e esfregar a bochecha dela até sair. Isso me enlouquecia quando eu era pequena, mas com a Alice é irresistível.

Outra coisa mais forte do que eu é tirar meleca do nariz dela. Porque a meleca tá toda ali, na portinha, pedindo pra ser pinçada pra fora. Mãe que é mãe pinça, sem a menor cerimônia. E com os dedos, se preciso for. E limpa cocô. E enxuga vomitinho azedo. Remela, xixi, baba – se minha filha fez, eu pego sem problema nenhum. Eu, que sempre fui fresquíssima. Eu, que até ontem tinha ânsia de vômito pra limpar cocô de cachorrinho salsicha. Eu, que jurava de pés juntos que nunca iria virar aquele tipo de mãe, que lambe o dedo pra limpar a cara do filho e pega meleca de nariz.

Nem é tanto essa mudança de comportamento que me choca. Afinal, todo mundo vivia me dizendo que ser mãe muda a gente. O que realmente assusta é me dar conta que estou me transformando na minha própria mãe.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

:: Bebê Gourmet

Quando eu era criança era fascinada pelos potinhos da Nestlé. Achava cool, sei lá porque diabos. Eu sonhava com o dia em que teria um filho pra enchê-lo de papinha até as tampas, e enquanto o filho não chegava eu enchia a mim mesma: lanche da tarde era sopinha de carne com legumes, sobremesa era creminho de maçã. Aí, lá pelos 11 anos, entrei na minha fase gourmand (que, pra quem não sabe, começa quando a gente joga fora o tempero do miojo e faz nosso próprio molho com catchup – e daí pro macarrão com salsicha é um pulo...). Então eu incrementava a sopinha com caldo de carne, porque falta um baita de um sal naquilo ali, e comia com a alegria de um gastrônomo degustando trufas brancas do Piemonte.

 

Pois bem: aí eu tive uma filhinha. E resolvi que muito mais cool do que potinhos Nestlé era criar umas sopas maluconas e ultra-saudáveis pra ela, com arroz integral, quinua e verduras orgânicas. Parece sacanagem com ela, mas não é, juro! As sopas são incríveis e bem temperadas – com pouco sal, mas cheias de ervinhas frescas que a gente pega na horta. E a Vanda, que cozinha aqui em casa, teve uma idéia sensacional: ela faz o sopão básico* e à parte, em forminhas de gelo, congela uns purezinhos coloridos. Pode ser beterraba, ervilha, caldo de feijão, abóbora... a cada refeição a gente coloca um cubinho, ou faz uma combinação com cubos diferente. Alice come felicíssima e não enjoa!

 

 

*Sopão básico:

 

- uma proteína animal: carne, frango ou peixe.

- um carboidrato (arroz, macarrão, batata, quinua, cuscuz marroquino)

- uma cacetada de legumes e verduras, à vontade. É legal variar as combinações a cada semana.

- temperinhos: um tico de sal, cebola, alho, folhinhas verdes: salsinha, tomilho, coentro, alecrim, orégano, etc. Quando eu estou muito radical ainda boto uma pitadinha de curry ou cominho, pra dar uma variada. Mão leve nesses temperos em pó, ok? E não custa checar com o pediatra pra saber se tudo bem.

 

É só cozinhar tudo num panelão, passar numa peneira grossa (antes de peneirar eu separo a carne, bato no liquidificador e ponho de volta na panela), e pronto. A gente faz bastante e congela em porções individuais pra durar uma semana. Pra variar, usa os tais cubinhos coloridos. Um fio de azeite na hora de servir (tempera e ainda dá uma forcinha a mais pra bebês com intestino preso), e voilà! Delícia!

 

 

Então eu desencanei dos potinhos Nestlé e passei a cobiçar as refeições da Alice enquanto ela almoça. E se meu olho gordo causar dor de barriga na pobrezinha eu ainda posso colocar a culpa no curry.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

:: No princípio era o nada


Você nada sente. Nada vê no ultrasom. Se concentra e tenta se conectar com a barriga: nada. A própria barriga ainda é o (quase) nada de sempre.


A única coisa que mudou é: de repente ficou chata, burra e incapaz de ir ao banheiro (a não ser pra vomitar). Parece que arranjou dois problemas sérios, um gástrico e um neurológico. É bom mesmo que haja uma outra coisa pra justificar, e se essa outra coisa envolver um bebê rosinha e bochechudo no fim de uns meses, melhor ainda. Gravidez, nos primeiros meses, é puramente uma questão de fé.


Com 3 ou 4 meses você não está mais chata, mas continua bem burra (aliás, a burrice acompanha o processo todo e é chamada desíndrome cerebral: o sangue do seu corpo esquece da cabeça e desce todo pro baixo ventre. Isso explica derrubar coisas, atravessar a rua perigosamente e esquecer o número do seu celular). A situação do banheiro se resolveu e as coisas entram e saem por onde deveriam, como Deus quis. A barriga já dá sinais, mas tem aquela cara de pancinha sem-vergonha de chopp e talvez você ainda receba uns olhares feios no ônibus quando sentar nas cadeiras reservadas. Mas, de novo, nem sinal de alguém lá dentro. Você fecha os olhos, põe as mãos e se esforça muito pra estabelecer uma comunicação, e a única coisa que percebe é o seu umbigo sendo ejetado dia após dia. Neste momento, tentar cantar para sua barriga ou desenhar nela uma carinha sorridente só vai te fazer sentir ridícula. Não recomendo.


A coisa vai ficando divertida lá pelos 6 meses, quando um belo dia sua barriga - que nesse ponto já é uma barriga de responsa e pode ser ostentada, principalmente no ônibus!, como um troféu - começa a quicar. Primeiro timidamente, ataquezinhos de soluço. Depois furiosamente, e você acredita que está gerando um polvo capaz de cutucar em-cima-à-esquerda e embaixo-à-direita e centralizadamente-ao-centro, tudo ao mesmo tempo agora, uma coisa enlouquecedora.


Então aí está. Existe mesmo uma pessoinha embutida dentro de você. Uma pessoinha que gosta de Piazolla (orgulho, orgulho!!), te acorda todo dia com um chacoalhão às 7h30 da manhã, reage ao sol e detesta quando você espirra. Que fica tímida com platéia e mata mamãe de vergonha toda vez que ela diz: venham, venham, está mexendo! e coloca as mãos das 8 pessoas ao redor na barriga e nada acontece por 2 longuíssimos minutos, estava pulando ainda agorinha, mas parou, que pena, ah, então tá, e aí as mãos todas saem e é o código para a pulação começar outra vez, e assim a brincadeira segue, e assim eu perco todo o crédito que outrora tive com meus amigos.


O legal de finalmente sentir que tem alguém aqui é que eu posso comer por 2 sem sentir um pingo de culpa (essa é uma picaretice ancestral das grávidas, mas só vale pra quem engordou pouquinho, ok meninas?). O chato é que eu ando culpada de falar tanto palavrão. Baixou a mãe em mim, quem diria?

 

(8 de junho de 2007 - 28a. semana de gravidez.) 

terça-feira, 20 de maio de 2008

:: Aliás...

...eu tinha jurado que jamais, em hipótese alguma, usaria o clichê “país das maravilhas” pra falar da Alice. Durou 1 semana. Donde se conclui mais isso sobre a minha pessoa: nem sempre eu cumpro o que prometo.

(Mas vou tentar melhorar. Prometo.)

:: Sobre esta que vos fala

Já que vou desfraldar a intimidade da minha filha nesse blog, nada mais justo que eu me exponha um pouco também.

 

As pessoas costumam se definir pela profissão, mas comigo isso não dá certo. Primeiro porque no momento não sei qual é a minha profissão (blogueira conta? E mãe?), segundo porque existem coisas mais reveladoras pra gente levar em conta quando quer se apresentar.

 

Então eu sou a Mariana, tenho 28 anos, sou mãe da Alice e mulher do Carlos (faço a apresentação dos dois porque vocês vão ouvir muito sobre eles pelo caminho). 

 

Tenho uma tendência a não levar as coisas a sério, sou um pouco irresponsável e imatura mas compenso com bom-humor e um certo charminho pueril. Que, diga-se de passagem, é uma estratégia apelativa e lamentável que precisa ser revista urgentemente, porque já estou beirando os 30 e com uma filha nas costas, então passa da hora de virar gente grande.

 

Não decidi ainda o que quero ser da vida. Não consigo tomar decisões, mas não é culpa minha, é do meu signo. Não acredito em signos, mas adoro a desculpa. Sou libriana pacas. 

 

Também sou tímida pacas, apesar de ter um blog, que é o cúmulo do exibicionismo. Acho bem mais fácil ser exibicionista por escrito.

 

Gosto de cozinhar, gosto mais ainda de comer, gosto mais ainda de dormir. Tenho uma preguiça colossal de fazer exercícios, mas depois do nascimento da Alice senti que a coisa deu (literalmente) uma balançada, de modo que comecei a fazer dança do ventre pra tentar firmar a pancinha. Me requebro, me divirto e ainda entro em contato cósmico com meus antepassados das arábias, bem melhor que academia!

 

Nunca tive certeza de que queria ter filhos, mas aos 10 anos de idade já tinha tinha decidido os nomes das minhas futuras filhas. Nunca me achei maternal, nunca quis casar, meus namorados foram em sua maioria bons amigos. Aí me apaixonei, e casei, e engravidei rapidíssimo, feliz da vida.

 

Aos trancos e barrancos, tô aprendendo a ser mãe. E amando. E descobrindo que tenho sim talento pra coisa, quem diria?

 

É isso. Chega de falar de mim. Daqui em diante, overdose de Alice. Bem-vindos ao meu país das maravilhas!

 

(Ah é: e a minha filha não tem nenhum dos nomes que eu escolhi aos 10 anos de idade.) 

quinta-feira, 15 de maio de 2008

:: Vê se aprende, Fenômeno

Aí vem alguém e diz: que gracinha! É menino ou menina? E você não liga, porque sua filha ainda tem aquela cara assexuada dos bebês de uma semana, e o "que gracinha" inclusive foi uma bondade tremenda do sujeito.

 

Então você veste na sua filha um body cor de rosa, e eis que vem alguém e diz: ô coisinha rica da tia! É menino ou menina? E você pensa que tudo bem, porque os tempos mudam e as cores podem mesmo ser usadas com mais liberdade.

 

Pra garantir você bota nela lindos brinquinhos de ouro. E vem alguém e diz: cuti-cuti-cuti, é menino ou menina? E você deixa pra lá, porque os brincos são tão miúdos e delicados que vai ver a pessoa não viu.

 

E aí vocês vão numa festa e sua filhinha está deslumbrante de BRINCOS, BANDANA FLORIDA na cabeça e VESTIDO cor de ROSA de BABADOS. Nunca houve no planeta menininha tão encantadora!

 

E nisso chega alguém e diz: ô lindeza mais linda de Deus!, é menino ou menina?

 

 

(Sacou, Ronaldo?)

terça-feira, 13 de maio de 2008

:: Dia das Mães

No meu primeiro dia das mães, eu me senti mais maternal do que nunca.

 

É que a Alice está doente, pela primeira vez. Gripe braba, daquelas de derrubar. Uma febrinha aqui, uma vomitada ali, aquela tosse chiada de cachorro, o nariz escorrendo non-stop. Bolhas de meleca fazem plop! nas narinas como bolas de chiclete, seria até um pouco engraçado se não fosse tão chato, coitadinha. Aí ela olha com aquela carinha de febre, os olhos úmidos e pequenininhos, e não dá. A gente se agarra loucamente. Não sei se a carência é mais dela (bebê doente) ou nossa (pais inexperientes de bebê doente), mas o fato é que Alice se aboletou no nosso colo há uns 4 dias e nunca mais saiu. Nem fato de ela limpar o nariz nos nossos cabelos e casacos tira o prazer de ver que, mais do que remédios ou sopinha morna, é grudar na gente que faz com que ela se sinta melhor. 

 

Mas essa situação de ter um bebê a tiracolo o tempo todo me assustou e criou uma dúvida atroz: como as mães conseguem carregar seus filhos por tanto tempo? Se a Alice não pesa nem 8 quilos e eu já estou em frangalhos, imagina como vai se a vida quando ela pesar 10, ou 12, ou 15. Todos dizem que os braços das mães se fortalecem à medida que o filhos crescem, mas ninguém nunca mencionou a lombar. 8 quilos viram 30 em poucos minutos quando se está de pé carregando um bebê (porque mãe que é mãe sabe: tem que ser de pé. De pé e andando, senão eles brigam). Então eu passei os últimos dias andando de lá pra cá com Alice no colo, e agora a minha coluna ganhou uma curva improvável e pouco saudável, tipo aquela lordose acentuada de dançarina de axé. Temo pelo meu futuro e vou providenciar aulas de pilates assim que possível, pra aprender a apoiar o peso nos músculos do abdômen em vez de entortar as costas desse jeito. 

 

Dito tudo isso, mando meus mais sinceros e admirados parabéns a todas as mães, por conseguirem carregar seus filhos pela vida - e sem perder o rebolado! 

 

(Beijos especialíssimos para a minha mãe, que faz aniversário hoje! Parabéns, Lurdeca!!!)  

sexta-feira, 9 de maio de 2008

:: Confesso que menti

Já comecei esse blog faltando com a verdade, que coisa feia. 

 

É que isso aqui não é um manual. Longe disso. Achei o nome sonoro e simpático, mas chamar isso aqui de manual foi uma picaretice enorme da minha parte pra tentar ganhar alguma credibilidade com as leitoras. A verdade verdadeira é que estou há apenas 8 meses na função de mãe e me falta muito arroz-com-feijão pra poder ser guia de alguém nessa complicada e deliciosa tarefa de criar uma mini-pessoa.

 

O que vou fazer aqui é contar como a maternidade tem sido pra mim. Foi só descobrir que estava grávida e me bateu essa vontade enorme de escrever, contar, registrar. E, principalmente, dividir. Porque na hora do aperto, quando eu me descabelo e me sinto a última das mães da face da terra, nada é mais tranqüilizador do que saber que outras mães descabelam-se tanto quanto eu. E nas horas boas, que são tantas, quero poder dividir com o mundo como a minha filha é incrível – e se o mundo parece não ligar muito, as outras mães sempre ligam, numa espécie de consciência de classe que conecta todas as mães e faz com que possamos falar sobre mamadas, ou passinhos, ou cocô, sempre com a mesma alegria maternal.

 

Então, definitivamente, não estou aqui pra guiar ninguém. Posso até dar umas dicas aqui e ali, comentar truques que funcionaram, citar coisas que li por aí, mas não tenho a pretensão de ensinar nada a ninguém. Pelo contrário: tenho a pretensão de aprender.

 

O blog está abertíssimo para comentários, sugestões, críticas ou mesmo pra quem quiser contar suas próprias experiência com seus filhotes. Minha experiência é pequena mas a vontade de assuntar é grande, então vamos construindo isso aqui juntas, ok? No fundo, esse espaço é pra isso. Pra juntar um punhado de mães e fazer aquilo o que nós fazemos melhor: falar, e muito, dos nossos filhos.

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