quarta-feira, 30 de março de 2011

:: A aparição


Dia desses fui abordada numa rede social dessa vida. Parece que eu tenho o perfil para uma certa campanha a ser fotografada em breve. Aí pronto, fiquei um-no-jo! Oi, delírios de top model! Oi fama, fortuna, glamour e temporadas de moda em Milão! Oi, pessoa realista e pé no chão, tudo bem?

(Só pra ficar claro, eu conheço quem me abordou, ok? Não sou nem maluca nem ingênua para cair em golpes internéticos e terminar numa banheira de gelo sem um rim. Não tentem isso em casa sem ter certeza que é confiável, please...)

A produtora de casting me pediu para mandar umas fotos. Esse pedido é meio arriscado, porque nem sempre o que se vê é de fato o que se tem: na tentativa de vender o próprio peixe, a gente só escolhe o melhor do melhor do melhor. Para cada 100 fotos meia boca todo mundo tem 1 em que está especialmente bem. Assim fica fácil. Escolhi as fotos mais espetaculosas (e que, vejam bem, foram tiradas em momentos mágicos tipo gravidez ou Paris, com a pele radiante e o humor nas alturas) e mandei. Passei pra segunda etapa: a produtora me ligou e pediu pra eu ir até o estúdio tirar mais fotos. Ai que chiqueza, que sucesso, como sou bela e carismática!

Fiz-me linda ontem à tarde e fui, toda pirlimpimpim, tirar as benditas fotos. Super num clima já ganhou!, já ganhou!, já ganhou! (ai, dá até uma vergoinha confessar essas coisas... pessoa louca, tá gente, há que se dar um desconto.)

Aí cheguei vaporosa e foi aquele TAPA NA CARA, né?

Eu tenho 1 metro e 59. Eu uso calça 40. Ainda estou uns 4 quilos acima do peso (vejam o lado positivo: há 2 meses eram 10 quilos...). Eu sou bonitinha-normal, gente. Simpática, sabe? Aquela garota comum que foi da sua classe ou coisa do tipo. Aí chego lá e só vejo mulherão. Espiei no caderninho da produtora e as alturas começavam em 1,70. Cruzei no portão com uma morena tão linda que quase caí pra trás. Enfim. Um gostoso choque gelado de realidade pra refrescar o dia.

Na hora das fotos ainda fui surpreendida pelo fator nervosismo, que faz a expressão congelar, os lábios ficarem meio bobos e os olhos parecerem lunáticos, um mais arregalado que o outro. Tirar foto de gatinha é fácil quando é o marido fotografando, né? Bota fotógrafo profissional e luz na fuça que a gente fica instantaneamente com cara de pastel. Tirei as fotos me sentindo super desconfortável, percebi que o desconforto estava estampado na cara, aí fiquei autoconsciente e crítica, e mais nervosa, e assim fomos ladeira abaixo. Como, aliás, era de se esperar para uma criatura que nunca tirou fotos do tipo na vida.

No fim da sessão a fotógrafa me chamou pra ver as fotos.

Ai, gente. AI, GENTE! Que situação. Tenho ataquinhos de riso nervoso só de lembrar.

Estava tudo lá: um ar de desequilibrada, os olhos assimétricos, a boca dura de botox e a cara de pastel. Pra tudo isso eu estava preparada. Mas tinha algo mais. Algo que muito me surpreendeu. BOCHECHAS. Pregadas na minha própria cara. Bochechas que não estavam ali antes, juro juro!

Sabe essas fotos aterrorizantes que contém visitantes do além? Tipos, aqui sou eu, aqui meu irmão, aqui meu primo... e aqui, oh!, meu tataravô que morreu em 1882! Foi assim. God, eu tenho bochechas fantasma! Bochechas que não aparecem na vida real - fui checar no espelho - mas que na luz chapada da foto se revelam como mágica! Horror, horror!

Fiquei em choque contemplando minhas novas bochechas e tentando me justificar ("é o pós parto, moça!" "ah, você é mãe, qual a idade do seu filho?" "oi? - cof cof - 7 meses..." Hahahahahaha!). A produtora, que era fofa, ainda disse que eu podia voltar pra fazer novas fotos se conseguisse emagrecer mais até o mês que vem. Quédizê: lá se foi o trabalho, o cachê (que era bem bom) e a auto-estima delirante.

Agora, além de conviver com a fato de ter 1,59m e usar calça 40, além de estar de regime, além de ser apenas normal, eu ainda tenho que lidar com bochechas fantasma que se materializam em fotografias. Não mereço isso, mas quem falou que a vida é justa?

Então, já que eu não vou ganhar fortunas com a minha beleza arrasadora (meu marido acha, tá?), bora voltar pra vida real e ficar feliz, muito feliz, no emprego novo? Principalmente porque o freela é curto. E crachá temporário, graças a deus, não tem foto.

segunda-feira, 28 de março de 2011

:: Trabalho, dia 1


Então chegou o dia de tirar as pantufas, passar uma base na cara e ir trabalhar.

E eu fui.

Encarnei a personagem, sentei na minha mesa com o meu computador e o meu telefone (dúvida de etiqueta trabalhística: posso levar 14 fotos dos meus filho e colar no monitor?), circulei pelos corredores, sorri para colegas e tomei cafezinho no meio da tarde. Faz 4 anos que sonho com esse momento, e eis-me aqui, toda metida, com ares de profissional de sucesso (exagerei, é só um freela de 3 meses, mas precisamos começar de algum lugar...).

Agora me diz: quedê a satisfação, gente? Quedê o poder, quedê o orgulho de mulher multifacetada? Ninguém sabe ninguém viu.

Em vez de orgulho, eu pensei em por que caralhos a pessoa se meteu a trabalhar (mais)? E pensei que meu filho é muito pequeno e não está pronto pra se virar sem mamãe. E pensei que eu trocava base mesa computador sorrisos e cafezinho por duas cafungadas bem dadas nas fuças dos meus bebês. Ai, como sofro.

Mas é mentira, claro. Deve ser só o choque do começo. A verdade é que eu tive 4 anos inteirinhos de cafungadas, já basta, hora de mudar um pouco a rotina. É tudo uma questão de readaptação.


Bom, a jornada se passou (foi bem curtinha hoje, na verdade foi mais uma ambientação mesmo) e eu voltava feliz pra casa e pros meus pequenos. Quarto ônibus do dia, já quase em casa, que alegria!

Aí eu senti um siricutico dentro da minha blusa.

((( Pausa explicativa: a pessoa sai da gravidez mas a gravidez não sai da pessoa, então eu ainda uso as minhas batas larguinhas, que são a única coisa que me serve bonitinhas e confortáveis. Eu, no ônibus, de bata larguinha - visualizem, ok? )))

Olhei pra dentro da blusa, e a origem do siricutico era uma baratinha que pegou carona em mim em algum ponto do trajeto e caminhava na minha barriga.

Uma barata.

Em mim.

Na. Minha. Própria. Pessoa.

No. Primeiro. Dia. De. Trabalho.

O que o universo está querendo me dizer, gente? Deus não quer mães de família trabalhando fora, é isso?

(Ou: Deus, assim como o Cumpadi Washington, acha que tudo que é bonito (pelancas?) é pra se mostrar e condena batas larguinhas? Porque veja bem, se eu estivesse usando uma blusa justa não estaríamos tendo essa conversa, certo? Batas largas permitem que insetos desprezíveis se escondam nelas, pensem nisso, amigas.)


Enfim, após esse dia peculiar a questão que fica é: devo me enfurnar em casa e só sair quando meus filhos atingirem a maioridade?

Vou pensar sobre isso e já volto.

quinta-feira, 24 de março de 2011

:: Alice, a enjoadinha


Arranjei um emprego, tenho dor de garganta, uma filha adoentada cabulando aula, uma reforma pra tocar e uma babá pra arranjar em 24 horas. Vida fácil, sabe?

Pra completar, faz três dias que Alice olha na minha cara e diz:

- Mãe, vai pra lá, enjoei de você.

Punhalada no peito define?

- Estou EN-JO-A-DA de você - ela repete mil vezes, enquanto me enxota com as pontas dos pés e uma certa carinha de nojo. Carinha esta que, convenhamos, é linda mesmo nessa hora infeliz (porque mãe é besta e consegue extrair algum prazer corujento até de ter seu coração estraçalhado sem dó pela cria).

Pois é. Pari, cuidei, limpei, alimentei e enchi de amor, pra ela enjoar de mim em 3 anos e meio. God!

Será que com Dramin passa?

terça-feira, 15 de março de 2011

:: De onde viemos, para onde vamos?


Eu devo ser muito babaca mesmo.

Porque eu me acho super bem resolvida (cof cof). Eu sou moderna e despudorada. Eu topo falar de-tu-do. Eu sou assim, mais devassa que a Sandy, sabe? Com muito orgulho.

Aí minha filha me faz uma simples pergunta (pergunta esta que vem causando constrangimentos geração após geração) e eu, que me achava inabalável, quase caio pra trás de nervoso.

Veja bem. A gente é moderninho, a gente é descolado, a gente é super prafrentex (se é que alguém que diz "prafrentex" pode de fato o ser). Mas bota uma criancinha perguntando como um bebê foi parar dentro de uma barriga? A modernidade vai pelo ralo, a voz treme, as bochechas adquirem um bonito tom rosa carmim. Vira-se quase uma carmelita descalça, tamanho o pudor.

Eu ouvi a pergunta na semana passada. À queima-roupa, gente. Sem nenhuma preparação, nenhum aviso, sem um vinhozinho antes. Primeiro fiquei em choque com a pergunta em si, depois fiquei em choque com a minha reação desproporcional, e depois me dei conta que eu não tinha uma resposta preparada.

E não é que eu nunca tivesse pensado no assunto. Já pensei um bocado. Aliás, acho que eu penso nisso desde o desconcertante dia em que soube a resposta pra essa pergunta. Tô meio que esperando a bomba desde a gravidez e parto do Lucas - que Alice assistiu, de modo que já sabe por onde os bebês saem da barriga, o que é meio caminho andado, certo? Mas é aquela coisa: a gente sabe que um dia a pergunta vem, mas entra num processo louco de negação e pensa: Ok, um dia ela vai perguntar, mas não vai ser hoje. Agora podemos mudar de assunto e torcer pra ela ter essa curiosidade na presença de outra pessoa? Brigada.

Mas um dia, é hoje. Um dia a pergunta chega, e vai ser exatamente na nossa presença. "Estar pronto é tudo", já dizia o Shakespeare pela boca do Hamlet em mil seiscentos e bolinha (Hamlet era meio pinel mas tinha lá alguma sabedoria).

Hamlet que me desculpe, mas óbvio que eu não estava pronta.

Eu já tinha lido historinhas, beijado a testa, dado boa noite e ajeitado o lençol. Estava deitada do ladinho dela esperando o sono chegar (melhor do que esperar sentada...). 5 minutos de silêncio, e a pequena resolve, do nada, que chegou a hora de saber:

- Mamãe, como o Lu entrou na sua barriga?

E aí, mamãe moderna e descolada e que falatudosobresexo? Como você se sai dessa?


Opção a)
A verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade. E de forma bem gráfica, porque no nervoso da coisa você perde a mão e não poupa a criança de n-e-n-h-u-m detalhe. Ela termina o papo mais informada do que Marta Suplicy, Sue Johanson e Jairo Bouer juntos, e um tantinho traumatizada.

Opção b)
Meias verdades. Respostas vagas envolvendo sementinhas e abraço apertados, mais a torcida louca para ela não se aprofundar nas dúvidas porque senão, amiga, você tá numa sinuca.

Opção c)
Papinho picareta. Cegonha, Deus, Bebelândia e afins. O objetivo é ganhar alguns anos para elaborar uma resposta mais convincente.

Opção d)
Você se faz de sonsa. Ó, não sei, pergunta para a sua professora e depois me conta?

Opção e)
Fuga. Você abdica de toda e qualquer dignidade e simula um desmaio.


Pois eu recorri à ridícula, vergonhosa e desprovida de qualquer decência opção e.

Ou quase. Na verdade, eu fingi que estava dormindo.

Porque né, deitada em silêncio há 5 minutos, quem iria perder essa oportunidade? Calei-me e esperei ela desistir (o que levou um certo tempo e me fez mergulhar fundo na mentira e resmungar com a voz sonolenta, filha, tô dormindo, amanhã a gente conversa...).

Amanhã ela esqueceu, ufa. Mas vai se lembrar da dúvida a qualquer momento. Quando eu menos esperar, pimba! Lá vem.

Estar pronto é tudo.

Parece fácil, né?

É que Hamlet não tinha filhos.

sexta-feira, 11 de março de 2011

:: Spin around. Ninjas!


Eu tenho um bocado de assuntos a desenvolver (como minha decisão de contratar uma babá, a pergunta constrangedora que Alice me fez ou o relato do parto do Lucas que está quase pronto), mas vi esse vídeo e agora não consigo fazer mais NADA a não ser dar repeat e ter ataques de riso.


Favor abstrair o gato (foi para furar um bloquei do youtube, pois o vídeo original só está disponível nos EUA)


("They do the Macarena,
but I'm still not impressed.
They beg for me to dance with them,
but not in this dress!" --> HAHAHAHAHAHAHA, beijo na testa de quem fez isso!)


quinta-feira, 3 de março de 2011

:: Sobre a vida selvagem



Quem tem um bebê em casa cria uma conexão instantânea com a mãe natureza. A vida vira um documentário da Discovery Channel, com aquele monte de mães e filhotes se enroscando pela selva. E sim, a selva agora é a sua casa. Welcome to the jungle!


Um bebê é um mini mamífero que fareja a mãe à distância e pega objetos com os pés feito um mico leão dourado. Tem aquele olhar abestalhado de cachorrinho pequeno tentando entender o mundo, e se mexe com a mesma descoordenação de um potro pernalta recém-nascido. Bebês franzem a fuça e dão botes com as boquinhas desdentadas, tentando abocanhar nosso nariz, ou mãos, ou joelhos.


Bebês guincham, grunhem, e às vezes ronronam esfregando a carinha na gente, coisa mais lindinha de deus. Maiorzinhos, os humanos filhotes sobem nos adultos quando eles deitam. Vêm escalando, se enroscando, e se instalam nos ombros, ou em cima da cabeça, feito um leãozinho que descansa desajeitadamente na cabeça da mãe.


Bebês inspiram em nós - orgulhosos portadores de tele-encéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor - os comportamentos mais primais. Exemplo: não há pessoa NO MUNDO que resista a dar uma boa cheirada na cabeça de um bebê. Sério, podem reparar: é só alguém pegar um bebezinho no colo que em algum momento vai rolar uma cafungadinha na cabeça. É sutil, inconsciente e incontrolável. Deve ter a ver com uma necessidade ancestral de reconhecimento pelo cheiro.

Outro exemplo: a gente sempre acha que os nossos bebês cheiram insuportavelmente bem, apesar de tudo de nojento que os cerca. Não há pai ou mãe que não se derreta até virar uma pocinha no chão com o cheirinho do filho, mesmo com chulézinho no cangote ou os cabelinhos molhados de suor. Pior é que a gente SABE que é futum, mas a mente não concorda. O que é isso, senão instinto de bicho dominando a nossa razão?



E o apelo irresistível das casquinhas de cabeça? Quem não AMA arrancar casquinhas? Ah, não sei vocês, mas eu amo. Não posso com uma cabeça cheia de crostinha - não me controlo, não me aguento, poderia passar hoooras futucando. Dá vontade de sair pela floresta, abraçar um chimpanzé e dizer, amigo, eu te entendo! (a diferença é que eles, os chimpanzés, comem as casquinhas, piolhos e o que mais se aproveitar da futucação, o que já é um pouco demais até pra mim...)


Pois é. Humanos, macacos ou leões, na hora em que a gente bota uma cria no mundo é que vira bicho pra valer. E finalmente entende que aquela velha piadinha que diz: "conheça a vida selvagem, tenha filhos!" é bem mais literal do que a gente podia supor.

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