terça-feira, 26 de março de 2013

:: Aula de teologia, por Alice


- Mãe, deus existe?
- Err, humm, cof-cof. Tem gente que acredita que sim, gente que acredita que não, gente que não sabe. Tem gente que acredita em vários deuses, um para cada coisa! Existem várias religiões e...
- O que é religião?
- Religião é um conjunto de crenças que...
- O que é crença?

...E assim a conversa seguiu, ad infinitum - o que é santo?, o que é anjo?, deus morre?, etc etc, até que...

- Eu acho que deus existe, mãe.
- É, filha?
- É. Porque pensa... os bebês. De onde eles vêm. 

(Mãe suando frio, quem nunca?)

- Os bebês vêm da sementinha, né? A sementinha que corre, aposta corrida. (Quem disse isso pra ela, gente?) MAS SEMENTE NÃO CORRE, mãe. Então é deus que faz isso, ué. Eu acho.

Se ela acha, então tá, né? ;)

(o Deus do Laerte - na dúvida, esse ainda é o meu favorito!)

quarta-feira, 6 de março de 2013

Essa menina, tão pequenina, quer ser bailarina


Cecília Meirelles sabia das coisas. Não importa quão pequeninas as nossas meninas sejam (e elas sempre serão), vão amar bailarinas desde sempre.

Tá, mentira, que soy contra generalizações de todo tipo. O fato é que aqui em casa existe uma menininha fascinada por bailarinas - filha da mãe dela, aliás. Eu fui uma criança absolutamente delirante com essa coisa de balé, me achava a graciosidade suprema do planeta Terra. A dura realidade era essa:


Praia do Bonete, 1984. Essa menina tão pequenina quer ser bailarina, coitada. Alguém avisa?


Bom, a Alice pede para fazer balé desde aprendeu a andar (ou a pedir, não lembro o que veio primeiro). Por circunstâncias da vida (idades, horários, escolas, semestres, dinheiros, etc) fomos enrolando, adiando, esperando ela crescer um pouquinho. O que achei muito bom, pois permitiu que ela fantasiasse à vontade com o tal do balé. Para ela, ser bailarina significava atirar pernas e braços para todos os lados com um olhar languido e depois rodopiar até ficar bamba (filha da mãe dela, hehe!). Uma vez ela armou um showzinho junto com uma amiga que já fazia balé, e a diferença era gritante: enquanto a amiga dançava muito compenetrada uns passinhos bem marcados, Alice girava e saltava como uma borboleta alucinada. Ambas adoráveis, claro, mas a liberdade da dança da Alice me comoveu, e eu sabia que essa espontaneidade sumiria no instante em que ela fizesse a primeira aula. Pois é, a vida tem dessas.

Eis que, aos 5 anos e meio, o grande dia chegou. Numa emoção incontrolável, a mocinha vestiu o collant preto, a saia rodada, as sapatilhas e um sorriso de orelha a orelha, e foi à luta! Não precisou da minha ajuda: foi entrando na sala e se aproximando devagar das outras meninas, com os olhões arregalados e um riso nervoso, enfrentando uma timidez que não a impediu de fazer esse primeiro contato. E eu ali roendo unhas, tensa com um dos maiores desafios sociais dela até então - porque não sei se é impressão minha, mas já percebo nas turmas de 6, 5 anos aquela coisa um pouco hostil de grupinhos fechados, um comportamento quase pré-adolescente de excluir, maltratar, competir, sacanear. Tive medo da recepção da minha pequena por aquele grupo já formado, de meninas um pouco maiores. 

E fiquei vendo por trás do vidro, com cara de besta e pronta pra invadir a sala e dar na cara da primeira que se fizesse de engraçadinha com o meu bebê, a minha menininha sendo muito mais corajosa e hábil do que eu sempre fui em situações parecidas. Alice se aproximando. Alice sorrindo simpaticamente. Alice, meu deus, puxando papo! Filha da mãe dela uma pinóia, né? Ela me deu um pau federal, que eu sou banana desde criancinha! You go, girl! 

Além de conhecer a notável habilidade social da minha filha, nesse dia também fui apresentada à dedicação, à concentração, à vontade de acertar da pequena. Dei tchau para a espontaneidade doida dela e boas vindas para essa disciplina que percebi que ela tem, esse prazer de se levar a sério e saber que está fazendo um bom trabalho (e filha da mãe dela my ass, sou um caos de criatura, careço muito de disciplina e seriedade nessa vida). 

Toma essa disciplina, esse olhar centrado, essa perninha caprichosamente embutida na saia! 
E isso foi um dia antes da primeira aula, hein?


E foi assim, com a testa colada no vidro, que conheci mais um pouco da pessoinha ótima que a Lila está virando, cada vez mais livre das minhas asas e do meu olhar protetor. Então engoli as lágrimas pra não ser a mãe louca que constrange a filha na frente das (novas) amiguinhas, corri para a sala ao lado e fiz uma aula de pilates, pra disfarçar. Aula esta que me rendeu DOR DE GARGANTA, pode isso produção? Dor muscular na garganta foi algo completamente inédito para a minha pessoa, e eu já passei poucas e boas, viu?

Enfim, eu podia extrair desse episódio uma metáfora sobre o amadurecimento, ou uma lição sobre a não-determinação dos genes sobre a personalidade de uma criatura - mas a  principal conclusão desse post é que, de uma filha corajosa pacas a uma dor de garganta inusitada, a vida é cheia de surpresas. É ou não é?

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