quarta-feira, 26 de outubro de 2011

:: Hoje eu acordei meio Carrie Bradshaw


É voltar a trabalhar, e a pessoa é tragada pelas fantasias mais delirantes de profissional de sucesso as seen on TV ---> acompanhem.

Aconteceu que eu abandonei o home office e me joguei com força nessa coisa de firma. Com a devida composição corporativa: a base na cara, a roupa de mulherzinha , o crachá pendurado. O cafezinho de máquina. O almoço com os colegas. As fotos dos filhos no celular (quem nunca?).

Hoje eu estava atrasada e não tomei café da manhã. E ali, rumo ao trabalho, subindo as escadas do metrô e chegando naquela rua cheia de executivos, não sei bem o que me deu, mas eu me senti assim, tão novaiorquina! E achei que seria podre de chic entrar em um café correndinho, pegar um cappuccino pra viagem e caminhar pela Av. Faria Lima, toda cosmopolita, bebericando em um daqueles copões de isopor. Porque profissional de sucesso é assim: toma café na rua enquanto anda apressada para o trabalho, correto? Pelo menos foi isso que o cinema norte-americano me ensinou.

Então lá estaria eu, uma mulher independente, uma mulher segura de si, com seu cappuccino e seu trench coat comprado em Paris (na feira, por 15 euros, mas quem precisa saber?), se preparando para mais um dia de trabalho. Praticamente a Carrie Bradshaw - mas uma Carrie usando All Star em vez de Jimmy Choo, porque eu sou pobre cool, tá gente? (Eu tinha falado "roupa de mulherzinha", é? Bom, essa parte era mentira, mas todo o resto é verdade!)

Carrie. NY. Sucesso. Glamour. Cappuccino.


Pois bem. Pensando em tudo isso, Carrie NY Sucesso Glamour, entrei em um café e fiz meu pedido. Mas café ali, na Faria Lima, colado no metrô, só tinha mesmo o Frans Café (choque de realidade).

Aí paguei inacreditáveis DEZENOVE REAIS por um cappuccino médio e um queijo quente magro e pálido.

Aí esperei inacreditáveis DEZ MINUTOS pelo pedido.

Aí andei quatro quarteirões QUEIMANDO OS DEDOS naquela PORRA daquele cappuccino cheio até a boca, com sua tampa ineficiente e a bebida pelando escorrendo pelas bordas. Atrasadérrima, tive que andar . de . va . ga . ri . nho . equilibrando o copo, parando a cada quarteirão para enxugar os respingos ferventes com lencinhos de papel que eu tirava desajeitadamente da bolsa, enquanto tentava não tombar demais o sanduíche que levava em um saco plástico. Despejei um tico do cappuccino no canteiro mais próximo, enrolei os papéis molhados e sujos no copo para tentar evitar mais respingos, e finalmente adentrei o meu elegante ambiente de trabalho - a passos trôpegos, queimada, mulambenta e cheirando a café, putaquepariu. Isso nunca acontece nos filmes!


Não pode haver glamour em um mundo onde existe o Frans Café, fica a lição.


De mais a mais, tenho certeza absoluta que se padarias houvesse em NY, neguinho não tinha essa frescura de cappuccino no meio da rua. Aqui em São Paulo, dona Carrie ia era se sentar no balcão da padoca, pedir um pão na chapa e uma média em copo de vidro, trocar uma ideia com o chapeiro e seguir feliz para o trabalho, chupando a balinha de hortelã que viria de troco. Com sorte, ainda seria minha colega de baia lá na firma, já pensou?

E aposto meu trench coat francês que ela só andaria de All Star.

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