sexta-feira, 24 de junho de 2011

:: Na casa nova


Pronto, mudei. Estamos na casa nova desde terça-feira.

Alice, olhando para as caixas empilhadas um dia antes da mudança, disse assim (suspiros e olhares dramáticos incluídos):

- Ai mamãe... o que será de nós?

Fica a dúvida, filha. Por hora, seguimos vivendo em meio a caixas e tranqueiras que não cabem em lugar nenhum. Estamos sem internet (estou usando o wi-fi de uma sala de espera...) e sem previsão de, portanto estou meio fora do mundo, perdoam?

Mas e aí gente, tudo certinho? Moças pariram? Moças embarrigaram? Algo de novo no front?

terça-feira, 14 de junho de 2011

:: Gente fina, elegante e sincera.



Daí que eu achava que mulheres eram seres de luz, né? É essa capacidade de gerar-parir-amamentar, sei lá, a gente se sente meio especial mesmo. Eu sempre acreditei muito na força das mulheres, uma força que vem também da delicadeza, desse instinto de cuidar, acolher, etc.

Então estava eu no ponto de ônibus naquela quinta-feira chuvosa. Rua alagada, pessoinhas amontoadas, vem uma viatura policial em alta velocidade e PÁ!, manda água suja nos transeuntes. Gritos, ofensas, aquele forrobodó. O ônibus encosta e entramos, eu e essa senhorinha muito alterada que banhou-se de lama comigo - vamos chamá-la de senhorinha 1. Ela subiu xingando e estacionou ao lado de outra senhorinha, a senhorinha 2, que viajava sentada no banco preferencial. Ficou de pé, pois todos os assentos estavam ocupados (era tipo a convenção anual dos velhinhos da Lapa, quem anda de ônibus por ali sabe como é...).

Eu passei a catraca e me sentei no fundão, enxugando as calças e avaliando o estrago. Ainda ouvia os resmungos da senhorinha 1 lá na frente. E ouvi quando a senhorinha 2 retrucou bem alto:

- Pra mim, quem não gosta de polícia é bandido.


Foi assim, gente. Tudo começou porque uma senhora ensopada xingou uma viatura e a outra tomou as dores dos puliça. Vai vendo.


Senhorinha 1 respondeu atravessado. Senhorinha 2 aumentou o tom. Eu enxugava as calças com lencinhos de papel, o cobrador meio-que-ria, os passageiros assistiam interessados.

Senhorinha 1 chamou a 2 de velha louca.

Senhorinha 2 respondeu: você é que é jovem, né?, com esse cabelo mal pintado! Sua galinha velha, sua fêa, horrorosa!

Senhorinha 1 baixou o nível e proferiu palavras de baixo calão.

Senhorinha 2 baixou mais ainda e disparou ofensas sobre supostos hábitos sexuais bizarros da senhorinha 1 envolvendo animais de grande porte, e inclusive botando o desavisado marido dela, que nem estava lá, no meio do rolo.

Risos gerais.

Senhorinha 1, meio acanhada com o tamanho do barraco, deu as costas.

Senhorinha 2 mandou ela ir tomar bem lá.

Senhorinha 1 se saiu com um infantil "vai você", e começou a descer do ônibus.

Senhorinha 2 correu, alcançou a 1 na escadinha e mandou-lhe uma guardachuvada bem dada na lomba.

Cobrador ria às gargalhadas. Passageiros faziam óóóóh! Eu quase chorava por falta de fé no ser humano.

Senhorinha 1 quis subir de volta pra revidar. Senhorinha 2 chamou pro pau. Ambas brandiram seus guarda-chuvas e fizeram juras de morte.

Motorista enfim fechou a porta do ônibus, deixando uma de cada lado, e deu a partida. Fim da contenda - senhorinha 2, louca de tudo, voltou para o seu lugar e ainda disse barbaridades em voz alta por uns cinco minutos.

Foi uma das cenas mais ridículas e deprimentes que eu já vi na vida. A senhorinha 2 era visivelmente maluca e descompensada, e a 1 burra o bastante pra comprar a briga. Mas o que me matou foi: todo mundo riu às pampas e ninguém fez nada. Não tinha um homem naquele ônibus pra evitar que duas senhoras de uns 60 anos se batessem com seus guarda-chuvas. Eu confesso que fiquei com medo de me meter no meio de duas doidas brigando, mas pô, olha o meu tamanho! Cadê cobrador e motorista numa hora dessas? Ônibus é terra sem lei, ninguém tem autoridade lá dentro, é isso mesmo? O cretino do cobrador ainda botava lenha, fazendo aqueles barulhos de menino de quinta série, "UUuuUUuuh..." a cada provocação de uma ou de outra. Ninguém nem aí, elas que se matassem - e, juro por deus, se a senhorinha 2 tivesse uma arma ali, naquela hora, ela teria dado um tiro na cara da outra, não tenho a menor dúvida.

E tudo isso, atenção, por causa de um xingamento a um carro de polícia que jogou água na galera da rua.

Veja bem, gente, vamos aprender a relativizar: eu também xinguei (baixinho porque eu sou fina) o carro, o que não quer dizer que eu realmente ache que aqueles policiais devam ir para a puta que os pariu, entende? É só um descarrego momentâneo, porque PORRA, putaqueopariu, fiquei ensopada, cacete! Pronto, desabafei, agora eu me enxugo e acabou-se, nada pessoal, espero que a polícia continue fazendo o ótimo trabalho que lhe é característico (claro que eu não disse nada disso dentro do ônibus porque senão tomava uma guardachuvada nas fuças também).

Enfim, o fato é que por uma bestice como essa, duas mulheres - seres de luz, de delicadeza e de amor - quase se mataram dentro de um ônibus cheio e ninguém tentou impedir. O ser humano é evoluído ou não é?

Agora uma pergunta: fossem dois homens brigando com a mesma violência, alguém estaria rindo ou a turma toda do busão desceria voando no ponto seguinte? Fica a dúvida.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

:: Sobre príncipes e sapos


Aconteceu na última sessão de teatro.

Do nosso lado estava esse garotinho fofo. Alice cresceu o olho. De colo em colo, foi parar do lado dele. Depois o seguiu pelo corredor e para perto do palco (teatro infantil permite essas pequenas transgressões silenciosas). Foram se sentar os dois na escada, lado a lado. Conversaram aos cochichos. Trocaram brinquedinhos. Deram-se as mãos. Alice se exibia, cantava todas as músicas da peça, ria ostensivamente - pavãozinho mostrando a plumagem, sabe como? Escada acima, escada abaixo, onde um ia o outro ia junto. Bonitinho de se ver.

Quando ela voltou pro lugar, ele veio atrás. Ela me puxou pra pertinho e cochichou, olhinhos brilhando:

- Acho que ele gosta de mim! - Alice é assim, romantiquinha, coitada.

Ele também me puxou e disse, preocupadíssimo, no meu ouvido:

- Tia, ela ficou com o meu carrinho!!!




E assim caminha a humanidade:

Mulheres e seus estúpidos delírios românticos, homens e sua estúpida fixação por carros.

Aos três ou aos trinta.

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