quarta-feira, 18 de julho de 2012

:: A coisa


Havia um objeto não identificado grudado no braço da minha filha. Um ponto marrom escuro, cascudinho e disforme. Visualizem um grão de ovomaltine - era exatamente assim. Tentei tirar: estava preso.


Casquinha de ferida? Carrapato? Uma pinta súbita e malévola?


Alice reclamou, não queria que eu mexesse. Chamei o pai.


- Que é isso?


Cara de dúvida. Não sabemos o que é. Eca.


- Tá grudado?

- Acho que tá, tô com aflição de tirar.


Fomos para a luz, olhei bem de pertinho, não consegui identificar. Era brilhoso, redondinho e encalombado. 


Pulga? Ovo de varejeira? Sangue pisado?  


Tento puxar de novo, não sai, ela dá um gritinho. A aflição aumenta, o nojinho aumenta. Alice vai ficando tensa. Eu não quero mais botar as mãos naquilo, então Carlos assume e eu fico pitacando, que é o que faço melhor nessa vida.


- Cuidado, tem que tirar com a cabeça! 

- Que cabeça?

- Se for carrapato tem que tirar inteiro, com a cabeça, senão infecciona!


Carlos pega um guardanapo ("vai que é cocô, né?"), pinça a coisa e dá um puxão certeiro. Alice faz AI. Pronto, saiu. Inteira, sem deixar cabeça ou outro rastro no bracinho da minha menina. Vou passar álcool, por via das dúvidas.


Sob um foco de luz, fazemos uma análise cuidadosa do material.


Sangue? Carrapato? Cocô? Verruga? Melanoma? Sanguessuga? 


Não, Brasil. 


Era um grão de ovomaltine.




segunda-feira, 2 de julho de 2012

:: Carta aberta ao Conar*


Duas recentes medidas do Conar referentes aos abusos da publicidade voltada para as crianças nos deixaram preocupados e ainda mais descrentes da atuação deste órgão com relação à proteção da infância.

A primeira foi a decisão de sustar a campanha da Telessena de Páscoa por anunciar para o público infanto-juvenil um produto que só pode ser vendido para maiores de 16 anos (de acordo com regulamentação da SUSEP). A segunda foi a advertência dada pelo Conar à Ambev, com relação ao ovo de páscoa de cerveja da Skol.
Ambas atitudes do Conar seriam dignas de aplausos – se tivessem sido tomadas quando as campanhas publicitárias estavam no ar, na Páscoa, em março. Mas o Conar só agiu em junho, quando as campanhas já não eram mais veiculadas.
Com isso, não houve nenhum impedimento para que a mensagem indevida da Telessena atingisse impunemente milhões de brasileirinhos e que a Ambev promovesse bebida alcoólica através de um produto de forte apelo às crianças. A advertência à Skol é ainda mais ineficaz, pois não impede que no próximo ano, produto semelhante seja oferecido.

O Movimento Infância Livre de Consumismo vê nessas decisões a comprovação de que o atual sistema de autorregulamentação praticado pelo mercado publicitário brasileiro é lento, omisso e ineficiente. Fato ainda mais grave quando se trata da defesa do público infantil.
Por isso, exigimos que a publicidade infantil sofra um controle externo como todas as atividades empresariais. Reiteramos nossa postura de que, sem leis e punição, jamais teremos uma publicidade infantil mais ética.
Nós, mães e pais, exigimos respeito à infância dos nossos filhos e solicitamos que estas duas atuações não constem dos autos do Conar como casos de sucesso. Contabilizar pareceres dados depois que as campanhas saíram do ar, como exemplo da firme atuação do Conar, é propaganda enganosa. E isso contraria o tal Código de Autorregulamentação que os publicitários insistem em tentar nos convencer que funciona.
(Este texto faz parte de uma blogagem coletiva proposta pelo Movimento Infância Livre de Consumismo juntamente com blogs parceiros. Este movimento é composto por pais e mães que desejam uma regulamentação séria e eficiente da publicidade voltada para crianças. Para saber mais acesse: http://www.infancialivredeconsumismo.com.br)

#desocupaCONAR, #publicidadeinfantil, #infancialivre
*Este texto faz parte de uma blogagem coletiva proposta pelo Movimento Infância Livre de Consumismo juntamente com blogs parceiros. Este movimento é composto por pais e mães que desejam uma regulamentação séria e eficiente da publicidade voltada para crianças. Para saber mais acesse:http://www.infancialivredeconsumismo.com.br

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