A mãe está no banheiro.
A filha está batendo papo com a mãe, pois não se importa com a situação e fica ali de ti-ti-ti em vez de sair e fechar a porta, como a mãe pediu mil vezes.
Maternidade é isso: ter companhia nos altos e baixos dessa vida. Que mãe consegue ir ao banheiro sem plateia, afinal? Então a mãe se conforma com a presença sacolejante da filha e fica ali, concentrada nos desígnios da natureza e dando trela para o papinho besta da pequena, tudo ao mesmo tempo.
Telefone toca e filha sai correndo empolgadona para atender. Pânico. Mãe grita: "não atende, não atende, naããão...", e é solenemente ignorado pela filha. Claro.
Pausa para a enquete:
Qual é a chance da criatura NÃO dizer "mamãe está fazendo cocô e não pode atender"?
a) zero
b) nula
c) nenhuma
d) rá-rá-rá-vai-sonhando
Despausa.
- Alô? Oi vovó! ("Vovó" - menos mal. Oremos para que seja a vovó mãe da mamãe, e não a mãe do papai) A mamãe tá fazendo cocô e não pode atender.
And thats'a a bingo!
- Pode falar comigo. Tudo. Sim. Sim. Peraí que eu vou ver se a minha mãe já acabou de fazer o cocô, tá? Não desliga, se a minha mãe não tiver acabado o cocô eu volto e falo com você, tá? Fica aí, vovó. Opa, a minha mãe deu a descarga, acho que ela acabou o cocô. Ela já vem, um beijo, tchau.
Ah, a indiscrição infantil, essa danadinha. É nisso que a mãe está pensando quando enfim atende o telefone, tentando evitar a voz de quem acabou de fazer cocô. Fim.
(Em tempo: claro que isso não aconteceu, gente, é só um exercício de imaginação. Eu nem faço cocô, não tenho tempo. A questão é: poderia ter acontecido, aposto que sim. Mas enfim, não aconteceu, pelo menos não comigo. Tá? Beijo-tchau.)