quinta-feira, 28 de maio de 2009

:: No meio do caminho tinha um paredão espelhado


tinha um paredão espelhado no meio do caminho.


Passo por ali sempre. E dou aquela espiadinha básica, di-a-ri-a-men-te. Porque não sei se toda mulher é assim ou se sou eu que sou uma louca ególatra, mas o fato é que não consigo passar por um espelho e não checar a bunda, ou o cabelo, ou o batom novo. E essa parede é especialmente boa, tipo um espelhão gigante mesmo, bem nítido, uma delícia. Pequena Alice também aprendeu a se olhar, e agora que ganhou uns óculos escuros passa por ali toda prosa, sorrindo adorável para o próprio reflexo.

Acontece que, tal qual um Narciso abestalhado pela própria imagem, eu nunca tinha olhado PARA ALÉM DE MIM MESMA naquela vitrine. Até ontem, quando notei no espelho um movimento que não era meu. Bom, aí aconteceu a revelação ÓBVIA: tem gente ali atrás, né Mariana burra? É um escritório e atrás daquele espelho todo tem um bocado de mesas, e atrás das mesas um bocado de gentes. Eu nunca tinha prestado atenção mas eles estão ali, sempre estiveram. Acompanhando meus olhares, reboladas e jogadas de cabelo de camarote (meus e de meia Paris, espero... melhor um constrangimento coletivo do que uma gafe solitária).

Que vergonha. AI QUE VERGONHA. Tento me consolar pensando que nunca chequei os dentes pra limpar salsinha ou coisa do tipo. Mas né? Humilhante anyway. Agora eu passo por ali e me controlo muito, mas MUITO, pra não dar uma olhadinha. Faço a checagem com-ple-ta no espelho do elevador pra não precisar me espiar no espelho da rua.


(Oi? Como assim, "câmeras no elevador"???)


terça-feira, 26 de maio de 2009

:: Alice e o cocô


*post escatológico que pode impressionar os mais sensíveis (se é que existe alguma mãe que, a essa altura da vida, ainda se impressione com cocô...)*


Alice finalmente foi apresentada ao próprio cocô. Apresentada formalmente, digamos assim.

Ela tinha tomado banho e ficou brincando pelada na banheira vazia, estava calor e ela ama ficar lá peladona mexendo no chuveirinho ou espiando pra dentro do ralo. E aí me chama e diz sorridente que fez cocô. Fui conferir - porque às vezes ela anuncia equivocadamente e eu não tenho ainda certeza que ela sabe a diferença entre cocô e xixi -  e de fato lá estava ele, bonito e saudável, se é que eu posso falar assim de um cocô. Eu falei pra ela, não mexe que eu vou pegar um papel pra tirar o cocô daí, tá?, com medo dela ir lá futucar, ou comer, sei lá, bebês são estranhos, enquanto eu pegava o papel. 

Mas ela não futucou, nem comeu. Ela olhou pra ele e deu um grito alto de horror. Aí estendeu os braços em minha direção e chorou e gritou, apavorada, como que implorando pra eu tirá-la dali correndo porque ela estava com muito muito muito medo daquilo.

Daquilo.

E só aí eu me dei conta que Alice nunca tinha visto um cocô na vida. E portanto, nunca associou o ato - fazer cocô - ao produto - cocô - de modo que aquilo, aquela coisa, ter aparecido do lado dela numa banheira vazia há de ter sido um susto tremendo. 

Resgatei a pequena da banheira, limpei e achei por bem fazer a apresentação, Alice, cocô, cocô, Alice, porque eles hão de se encontrar muito ainda nessa vida, sobretudo quando for a hora de desfraldar a moça. Apresentação feita, fomos juntas levá-lo para a privada e demos tchau, cocô! enquanto ele era levado pela água, e ela ainda lançou-lhe um beijinho antes de ele sumir pelo cano. 



quarta-feira, 20 de maio de 2009

:: Alice não bota fé na homeopatia


Ela abriu a minha bolsa e estava a chafurdar lá dentro, como sempre faz. E encontrou meu frasquinho de homeopatia, cheio daquelas bolinhas de açúcar. Olhou séria pra mim, frasquinho na mão, e mandou essa:

- Isso é balela.

OI??? Fiquei passada com tal afirmação saindo da boca de uma pessoinha de 80 centímetros. Como assim, garota???

- Isso é ba-le-la.

Jesus! Se aos 20 meses ela já implica com as minhas escolhas, como vai ser aos 20 anos?

- Isso é BALELA!

Não senhora, não me venha com essa de balela! Homeopatia é ciência (not!), é vida, é o futuro!

- Balela! Ballllellla!!!


E aí eu entendi que ela estava tentando dizer "balinha".


terça-feira, 19 de maio de 2009

:: Três vivas pro anjo da guarda! Viva viva viva!


Eu sento num banco, olho embasbacada para as crianças no parquinho e a questão que fica é: como as elas sobrevivem à infância, COMO???

Tenho pensado muito nas minhas peripécias infantis e são de arrepiar os cabelos. E olha que eu fui uma criança boazinha e comportada (leia-se medrosa). Nunca fui do tipo terremoto, que se aventurava loucamente no mundo e dava dor de cabeça nos pais, e no entanto:


- - Fazia a clássica “bola invertida de bexiga”, que consiste em SUGAR a borracha de uma bexiga estourada para fazer uma bola pra dentro, sabe como? Depois a gente enrolava a parte que estava pra fora da boca e saía por aí com uma mini-bexiguinha, sem ter nem idéia do risco de um engasgo fatal que acabou de correr.

- - Resolvi certa vez que era tão, mas tão forte que conseguiria AMASSAR UM COPO DE VIDRO. E peguei um copo, desses de requeijão, e apertei apertei apertei com to-das-as-mi-nhas-for-ças, até a mão tremer. Por sorte, o que me faltava de inteligência faltava também de força, de modo que não foi dessa vez que eu cortei minha mão fora por conta de uma brincadeira imbecil. Mas né? Um bocado preocupante que crianças tenham esse tipo de idéia...

- - Rolar cachoeira abaixo é a história da minha vida. Mesmo depois de adulta, diga-se. É botar o pezinho e zuuum!, lá vou eu, ora levada pela correnteza, ora descendo pelas pedras feito tobogã pra só parar a poucos metros da grande queda fatal (meu anjo da guarda é foda, sério! Amo-o muito). Teve até um episódio humilhante em que eu, toda pimpona, tentava seduzir um mocinho numa cachoeira em Maresias. Comecei a cena toda diva sensual e terminei grudada numa pedra feito lagartixa, o biquíni enfiado na bunda e as celulites todas pra fora, esperando o resgate - e ainda rindo ra-ra-rá pra mostrar todo o meu espírito de aventura. Aí o caso com esse mocinho só durou poucos meses e não consigo evitar de pensar que o episódio da cachoeira tem um pouco a ver com isso. Porque se nem eu me respeito depois daquilo, imagina ele, que viu de camarote e ainda foi salvar a barangona encalhada? Muito embaraçoso. Um dos meus pontos baixos dessa vida, mas que pelo menos me rendeu uma boa história e divertiu muita gente nas rodinhas sociais por aí, sendo a minha historinha tragicômica favorita de um monte de amigas queridas (alô Jojo e Nivão, que saudade de vocês!). (Ah, e esqueci de contar que no dia seguinte, pra coroar toda uma situação de charme e sedução, eu tinha 11 bichos geográficos nos pés por andar de chinela na trilha lamacenta e pisar nas cacas que lá estavam. Pensando bem, é de se admirar que o mocinho tenha sequer me encarado depois dessa viagem, que dirá por uns meses. Um cara generoso, sem dúvida...). Enfim, o fato é que o Universo não quer que eu freqüente cachoeiras, ponto. Melhor respeitar.

- -E os engasgos com bala soft? Chega até a me bater um saudosismo, lembro da sensação como se tivesse uma a-go-ra atravessada na minha goela. A bala escorregava sem querer e travava na garganta, TUM! Aí dava na gente um nervoso de um segundo e meio, rolava uma tossida engasgada e a bala deslizava de volta pra boca, onde continuava sendo chupada como se nada houvera. Acho que não existe mais bala soft, ou ela vem com um furo no meio, o que tira muito a aventura da coisa. Mas quem precisa de aventura quando se tem filho, não é mesmo? Anyway, as moedas continuam aí pra preocupar a gente...

Olha, eu poderia continuar infinitamente, mas não o farei. Só de escrever isso aqui já me dá uma vontade louca de correr na creche e espiar se minha filha está bem, se ela não engoliu nada ou arrancou o olho de um coleguinha. Ganhei uns cabelos brancos só de lembrar desses episódios que, repito, foram vividos por uma criança com-por-ta-da. Dá pra ser tão absurdamente pior que eu prefiro nem pensar (tá, agora sem querer lembrei da historia do Carlos, que aos 10 anos, andando de bicicleta em Santo Amaro, veio no pau e atravessou um cruzamento movimentado sem olhar, simples assim. Arrepios de horror).

Enfim, por essas e por outras que eu, uma mãe que não acredita em Deus, comecei a ter algum tipo de fé. Porque sem ajuda divina, a raça humana - com esse talento infantil de se colocar em situações de risco - simplesmente não poderia ter se multiplicado tanto. Se chegamos aos bilhões, é porque tem muito anjo por aí segurando a onda da gurizada. Certeza.

Então, em um lindo dia de sol, daqui da varanda do meu café favorito, onde almoço e escrevo e espero a hora de pegar a pequena na escola, ergo a taça (vinho francês, viu?) e proponho um brinde a eles, os anjos, que olham os nosso filhotes nos poucos momentos em que a gente não tá olhando. Tim-tim!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

:: Sobre o dia da mãe


Falei ali embaixo que virei a minha mãe, mas esqueci de enfatizar: com muito orgulho! Minha mãe é legal demais e fez um ótimo trabalho com a gente, por mais que eu fizesse questão de dizer o contrário quando era mais nova e sem filhos (até... ontem? God, como passa rápido!)

Pois ontem, 12 de maio, foi aniversário dela.  Assim, bem colado no dias das mães (e muitas vezes a data bateu em cheio), de modo que eu, pilantra, só dava um presente, quando dava - e agora, claro, isso me soa IMPERDOÁVEL. Mãe é mãe, gente, não se pode picaretear com elas, NUNCA! Fica a lição. E Lou querida, vou te mandar um presentinho parisiense bem chique pra compensar as minhas faltas anteriores, tá?

Parabéns, gordinha querida!

(gordinha agora é a neta, a vó é enxutona, tá meu bem?)

E pra aproveitar o gancho do dia das mães, volto rapidinho no assunto do post lá embaixo... 

Eu nunca fiz o tipo "mãe por vocação". Nunca tive certeza se queria ser mãe e nem acho que toda mulher deve necessariamente passar pela experiência, como se a maternidade viesse embutida no pacote. Não vem. Ter filhos é uma escolha, como tantas outras. 

Mas: cada vez mais me convenço que ser mãe é o que mais aproxima a gente das nossas próprias mães. É quase uma obrigação moral que temos com elas, sério. Porque eu precisei virar mãe pra entender a minha, e admirá-la ainda mais. Foi como entrar na pele dela e experimentar uma percepção completamente diferente das coisas. Pra mim, está sendo incrível essa mudança de perspectiva, e o fato de eu estar redescobrindo a minha mãe. E para ela, ter uma neta parece a coisa mais maravilhosa do mundo. Ela vira uma purpurina cintilante toda vez que fala da Alice, donde concluo que sim, as escolhas são pessoais e cada um é cada um, mas AI DE ALICE se não quiser me dar um neto!


segunda-feira, 11 de maio de 2009

:: Pra relembrar


Recebi dia desses um email ótimo, e pedi autorização pra publicar aqui. Não é (só) pelo confete, mas para retomar um assunto importante e que pode ajudar mais gente. 

Ei-lo:

Olá Mari,

Sou a Laura, mãe da Nicole - www.fotolog.com.br/nicolebaraldi (...)

Bom, escrevo aqui pois ainda não sei como comentar no blog, mas gostaria de demonstrar minha gratidão por vc ter me ensinado algo mto importante na minha vida e na da Nicole, q foi o método da amamentação por translactação. Se não fosse pelo seu blog eu jamais saberia disso e muito provavelmente não teria conseguido ir tão longe com a amamentação. A Nicole nasceu com 2,5 kilos apenas e não tive mto leite, ela não engordava nada e eu fiquei em panico só de pensar em complementação, achando q ela rejeitaria o meu peito. Hj ela tem 5 meses, mama no peito bastante e ainda fazemos a translactação.
Muito Obrigada Mari! 

(...)

Laura 


(valeu Laura, fiquei muito feliz com o seu email e a sua história!)


Como o post sobre a amamentação mista é antigo e talvez a as novas leitoras não tenham visto, achei importante relembrar. Resumindo muito, ele ensina uma técnica que junta na mesma mamada o peito e a "mamadeira". Serve tanto para mães que precisam complementar mas não querem deixar de amamentar como para estimular a produção de leite em mães que adotaram. Me ajudou muito, ajudou a Laura, e espero que tenha ajudado mais um monte de mães por aí. Divulguem a técnica se conhecerem meninas passando por dificuldades na amamentação!

O post é esse


quinta-feira, 7 de maio de 2009

:: A mãe e a moda


Eu tô tentando, juro.

Ando por Paris atenta, e leio sobre moda, e tento loucamente virar uma mulher elegante. Mas a moda não me ajuda. Ela não quer ser seguida por mim, ponto.

As tais calças saruel, meu deus.


As calças saruel estão além da minha compreensão. Eu achei que seriam uma dessas excentricidades que só as celebridades mais descompensadas encaram. Uma coisa assim meio Victoria Beckham, que a gente olha e pensa: essa daí, coitada, não tá nada bem da cabeça.

Mas não. Mulherada de fato anda de saruel na rua, vi agorinha mesmo, voltando da escola da Alice.


O problema é que eu sou mãe de bebê. Pra mim, saruel GRITA fralda cheia. Me dá vontade de pegar a dona da calça, deitar num trocador e botar uma fralda limpa, pra aliviar aquele volume todo nos fundilhos.

Aposto que tem mãe que vai me entender.


terça-feira, 5 de maio de 2009

:: O que muda com a maternidade?


Um peteleco em quem respondeu “o corpo”. Tô falando de mudanças mais profundas e relevantes, gente!

Pra mim foi o seguinte: eu mudei de lado. Traí o movimento. Virei a minha própria mãe.


Sabe aquele desencontro de gerações que faz a gente ter uma impaciência brutal com as nossas mães? Aquele “aaaaaai, mãããe!, a preguiça, o sentimento de mico sempre que ela faz alguma coisa que a gente julgue inadequada (e a gente sempre julga)? Então. Ele passa no instante em que você ejeta o seu próprio rebento pro mundo. De repente, não mais que de repente, sua mãe tinha razão. Sempre teve. E você se dá conta que o seu filho, aquela coisinha ainda molinha e incapaz, daqui a pouco vai ter preguiça de você, e te criticar, e achar que você sempre o envergonha na frente dos amigos dele quando fica agarrando e dando beijos na porta da escola! Céus! Pois o universo é justo e vai fazer você pagar por toda a chatice que dedicou a sua mãe. E mais: vai fazer você repetir aquelas coisas enlouquecedoras que ela fazia e que - agora você sabe – eram pro seu bem, sempre.


Antes de ser mãe eu era bem liberal. Pois aí fiquei careta, conservadora, reacionária até. Eu agora olho pras tribos adolescentes com cabelos mal cortados e brincos em lugares estranhos e peço solenemente ao papai do céu pra minha filha, tão lindinha, não fazer uma coisa dessas com ela, muito menos comigo. Eu vou tomar um susto quando ela fizer uma tatuagem sem me consultar, o mesmíssimo susto que dei na minha mãe quando cheguei em casa com uma tribal no cóccix, numa vibe "I'm so hot" aos 17 anos (e eu era tudo menos “hot” aos 17, tadinha!). E aí vou falar pra ela que tatuagem é uma bobagem, e que olhaí, agora eu sou uma mulher adulta, mãe de filha desse tamanho, e tenho uma tatuagem sexy em cima da bunda, quão bobo é isso? E vai ser uma baita mentira, porque eu ainda vou amar minha tatuagem sexy mesmo quando for uma velhinha toda enrugada (não deixa a filha saber!), e vou amar forever mesmo aquela outra tatoo, sem graça de tudo, que fiz porque o tatuador amigo-da-amiga era gato. Eu vou amar cada marca, cicatriz ou furo que tenho no corpo, porque eles, por mais bobos que sejam, contam um pouco da minha história. Mas essas são as MINHAS marcas, eu sei conviver com elas. Com filho, não. Filho é outra coisa. Os filhos já são tão lindos que não devem nunca mudar alguma coisa. Não tem tatuagem, piercing, franja assimétrica nem cabelo cor de rosa. Filho meu, não!


Por trás de toda essa cena de mãe chata, o que existe no fundo é um desejo incontrolável e inatingível de proteger a cria. Das pessoas erradas, da pressão da turma, da falta de traquejo social, dos impulsos, dos hormônios, das espinhas, dela mesma numa idade em que a razão passa longe. Até você perceber que o esforço é inútil, e que ela também pode se defender de tudo isso sozinha, se tiver ferramentas pra isso. E as ferramentas quem dá é você.


Então é confiar no seu taco, baby. Confiar na educação que você deu, nos valores que transmitiu, no vínculo de vocês. Se tudo der certo seu filho, com certeza, vai ser uma pessoa legal.


Mesmo que te ache uma baita de uma chata.


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