quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

:: A maternidade é um monstrinho bigodudo


(E por baixo do bigode ele ostenta um sorrisinho sarcástico, dizem)

Não bastasse a febre chata, esta criança ainda me pisa num caquinho de vidro. Mas assim, um caquinho mínimo. Minúsculo. Um nada, uma poerinha cósmica, aquilo que sobra no chão depois de varrer, varrer de novo, passar pano úmido e dar mais uma varridinha por via das dúvidas.

Mas o caquinho rende, claro. Uma chance de rolar pela cama miando como um gato gravemente ferido nunca é desperdiçada nesta casa, nunquinha. Meus filhos são danados.

Então lá vou para uma rotina bem conhecida: pegar uma pinça e ficar uns 75 minutos tentando convencer a cria de que é só uma puxadinha rápida. Que vai ser pior se o caquinho ficar no pé pra sempre. Que não posso prometer que não vai doer, mas prometo que quando ela sentir a dor - se é que vai sentir - tudo já vai ter acabado.

(Reparem: eu estava ar-gu-men-tan-do com uma criança de 6 anos. Parece até que a pessoa virou mãe ontem, né?, que ainda não percebeu que poucos coisas são tão ineficientes quanto argumentar com um filho - e isso vale até uns 19 anos, parece...).

Quando cansei de argumentar em vão, fiz como manda a pedagogia infantil mais básica: apelei para O LÚDICO, esse fofo, essa entidade mágica, esse ser misterioso citado por 10 entre 10 escolas infantis. Diz que faz milagre, o lúdico. Bora  invocar o lúdico nessa questão do caco no pé da minha filhoca, vai que cola?

- Alice, tirar esse caquinho é fácil, é tipo tirar pelinho com a pinça. Você já não viu a mamãe puxando uns pelinhos? Eu faço cara de dor? Então, não dói! (menti, me deixa.) Ó, vamos fazer assim: te dou essa outra pinça, aí eu tiro o caquinho e você tira um pelinho meu, pode ser?

- Tá! Vou tirar aqui do bigode, tá? 

(Pronto, aí está. Trocamos um caquinho de vidro pela porra de um BIGODE da minha própria face, a maternidade é um ato de despendimento da própria dignidade ou o quê?)

- Tá. Então vamos? Eu tiro e você tira?

- Vamos! Mas espera que eu acho que eu vou demorar mais, tá?, que tem UM MONTE aqui. 

E graças ao lúdico, voilà: eu tirei o caquinho do pé dela em um décimo de segundo, ela está tirando meus bigodes até agora.

Fim.

*na foto: o Lorax, minha entidade mágica favorita depois do Lúdico! 

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