sexta-feira, 30 de outubro de 2009

:: Alice e o vinholão


Quinta-feira, 29 de outubro, 19h50. 
Alice ganha um vinholão e presta uma bonita homenagem ao porco Astolfinho:

 

ai ai (*cof-cof*) ai  ai, 
a gente ainda é porquinho mas já sabe se virar!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

:: Eletra


Alice me ama, eu sei. 

E ela sabe que eu sei. 

Então ela tem achado divertido fazer que não. Sabe? Fica meio blasé, com um arzinho nem-te-ligo, e se encarafunchando ostensivamente no pai quando eu estou perto. Eu simplesmente adoro a cena, minhas duas criaturas mais amadas se enroscando - mas essa parte ela não sabe e acha que eu fico com ciúme.

Pra ficar claro que papai é que é o tal, ela decidiu verbalizar. Deitou na nossa cama, se aconchegou no Carlos e disse: mamãe, lá! - apontando o canto do quarto. 

- Você quer que eu fique lá longe?, eu perguntei, e ela fez que sim. Depois mudou de idéia e decidiu: 

- Não, lá não. Mamãe, na sala!


Em algum lugar Freud está às gargalhadas, aposto.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

:: Fotografias


Retomo o assunto de ontem pra dar exemplos do que considero bom gosto em matéria de fotos infantis:





Agora comparem:



Compreenderam, pessoas?


Nossa leitora Julia ficou especialmente sensibilizada com a história das fotos cafonas feitas pela escola porque ela é fotógrafa e sabe como é que se faz. Ela contou nos comentários que pretende entrar nesse mercado das fotos escolares de um jeito que eu acho bem mais interessante: mostrando as crianças em atividade, brincando, e não posando com laçarotes na cabeça e cara de constrangimento.

Boa, Julia! Salve os nossos filhos dos álbuns escolares desmoralizantes!

Todas as fotos acima (menos uma, adivinhem?) foram tiradas do site dela:  julinhamoreira.com.br


:: Cocoricando no teatro


Quando a luz do palco acende - só um pouco - e a fumaça aparece, já dá um certo frisson.

Aí aparecem uns ovos esquisitos saracoteando, e a música de abertura, aquela que a gente sabe d-e c-o-r, começa.

E quem vem lá? E quem vem lááá...? (Quem conhece a gaita já sabe, aposto!)

Aí Julio vem subindo do chão, gente! DO CHÃO! E não dá, é muita emoção, molecada ou tem ataques ou congela de choque de ver o Julio ali, ao vivo - se é que se pode falar isso de um ser de espuma. E a mamãe aqui fica engasgada e os olhinhos até enchem um pouco (os meus e os de Paulecca, ha! Obrigada Paulecca por dividir com a gente essa reação tão bonita que é se emocionar com o Julio aparecendo do chão! Eu vinha me achando uma louca emotiva solitária até receber sua confissão, haha!), as crianças desmaiam, o cambalacho é geral.

Os Cocoricós são os Beatles dos pimpolhos, gente! Pelo menos é que parece quando você sai da peça.

Programinha divertido, viu gentes? Acho que eles estão no fim da temporada, então corram! A peça tá no teatro do shopping Frei Caneca, sábados e domingos às 4 da tarde, penso eu. (Confiram no jornal, please.)


E Astolfinho, meu amor, obrigada por existir!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

:: Recordação escolar (mas eu prefiro esquecer)


A escola um dia pediu pra Alice não faltar porque iam tirar fotos para "recordação escolar". Ok, então botei nela um uniforme limpinho e bem passado e lá foi a moça.

Hoje ela chegou com um pacotinho. 

Dentro: uma foto grande da classe dela (achei fofa). E uma foto bem posada da Alice, em diferentes versões: 13x18, 3x4, adesivinhos com molduras coloridas, identificadores para mochila e um marcador de livro. E a conta, mandada pelo estúdio fotográfico: quase 40 reais o pacote completo. Opcional, mas né? Fala pra Alice levar o pacote de volta pra escola pra devolver e vê se ela acha que tudo bem?

Olha, mesmo se eu tivesse gostado loucamente da foto já ia achar meio estranho. Tá certo que eu nunca fui muito inteirada sobre educação infantil antes de ser mãe, mas não sabia que existia essa prática. É assim mesmo, a escola ajuda a vender pra gente foto dos nossos próprios filhos? É normal, é legal, os pais gostam? Tô desinformada? Sou chatérrima por achar isso meio esquisito?

Mas o problema não é nem esse. O problema é que eles pentearam a Alice e botaram nela umas chucas de borboletinha, e eu quase morri do coração de tanto rir. Não posso com essas chucas altas e os mullets soltos lá atrás, me lembra um cachorrinho. Ou a Xuxa, o que é pior ainda (né Paloma?) E a franja ficou toda certinha e homogênea, sabe quando a gente penteia demais e ela fica assim, meio afofada? Pra terminar, não sei que luz doida que fizeram que Alice ficou ruiva magenta - o que é adorável mas não condiz com a criança em questão. 


Ai, posso contar aqui que achei tudo de péssimo gosto, e que não tenho vontade de pagar um centavo? Que tenho em casa um bilhão de fotos lindas em que Alice não está usando um penteado que eu nunca teria feito e nem inserida em molduras firulentas? 

Questão de gosto, eu sei. É aquela história: gosto é que nem c*, cada um tem o seu  (olhaí, falando em gosto eu boto um c* no blog, viu como é relativo?). E tudo ótimo, ainda bem que as pessoas são diferentes e que em termos de gosto não existe certo nem errado, apenas percepções individuais. Agora, se sentir meio na obrigação de comprar um material que esteticamente te desagrada é uma coisa chata. Por outro lado, se é feito dessa maneira provavelmente agrada muita gente, então pronto. Vou comprar o kit (a versão simples, só com as duas fotos grandes, porque marcar livro com a cara da minha filha é um pouco demais) e esconder numa gaveta qualquer. E só vou tirar de lá pra fazer chantagenzinhas com Alice quando ela ficar chata e merecer, Alice, obedece mamãe senão eu pego aquela sua foto de chuca e mostro pro fulaninho, hein?!


Em tempo: eu até queria botar a foto aqui, mas tô com medo do estúdio descobrir e cobrar por isso também. Pra dar uma idéia, deixo a saudosa Harriet, de Super Vicky. Pensem nela com um uniforme cinza e pronto, temos Alice em sua primeira recordação escolar! 


 Porque recordar é viver

:: Rapidinhas


A Lia trouxe o assunto, várias mães já contaram essa história, mas é o tipo de coisa que quanto mais divulgação - e conhecimento do problema que está por trás - melhor. 

Luciana é uma jovem que está desaparecida desde junho. Saiu de casa, em Jundiaí, com a roupa do corpo e levando apenas uma caixa de remédios receitados pelo psiquiatra - ela sofre de depressão pós-parto. Deixou família e uma filha de 11 meses. A irmã dela criou um blog, http://procurandoluciana.blogspot.com, onde divulga fotos e conta a história. Vale ler e divulgar.

E gente: depressão pós-parto é coisa séria. Não é frescura, não é fraqueza, é doença - e pode ter consequências graves. Melhor do que negar, fazer pouco caso ou esperar passar é buscar ajuda rápido.

***

Lu Poggi me passou a dica de um blog novo sobre nutrição, o comercrescer.blogspot.com. Eu, mãe de uma garotinha magrela, percentil 1 (god! sentiram o drama, mammas?) e que come feito um passarinho pequeno, estou devorando - com o perdão do trocadilho. 

Vou deixar o link em "links úteis", ali embaixo.

***

Fugindo um pouco do assunto, só preciso dizer que ontem fiz 3 anos de casada e que meu marido é incrível. Balzaquiana e com 3 anos de casada, e eis que ando me sentindo enfim uma mulher adulta, oh!

Mas logo passa.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

:: A televisão me deixou burra, muito burra (mas feliz!) demais.


Minha vida é um eterno pagar a língua por todas as afirmações que eu já fiz sobre maternidade e tudo que já julguei sem o menor conhecimento de causa. Falar é fácil, e eu falava horrores.


Por exemplo:


Eu sempre critiquei quem tem babá, até precisar de uma.

Eu sempre achei o fim criança correndo em restaurante, até entender que criança correndo feliz é mil vezes melhor que criança sentada aos berros.

Eu nunca entendi mães ignorando pitis dos filhos em lugares públicos, até aprender que às vezes ignorar é preciso e altamente pedagógico.

E eu sempre jurei pra mim mesma, com a mais inabalável das convicções: meu filho não vai ver televisão! HAHAHAHAHA!!!

 

Olha, eu acho incrível a família que consegue ficar firme na decisão de não oferecer a TV como alternativa e ponto. De verdade. No meu mundo ideal, Alice faria um quinquilhão de coisas legais e nem daria bola pra TV. Mas é difícil se manter firme no dia em que você descobre que os Backyardigans tem o poder sobrenatural de manter  bebê calminho e entretido por 30 minutos.

Veja bem: se eu me travestir de abacaxi e dançar o ragatanga cantando em javanês, a Alice há de me dar bola por o quê?,  2, 3 minutos? No máximo. Mas se o pingüim azul se vestir de estronauta e cantar em português péssimamente dublado enquanto aquela formiga lesma lombriga coisinha cor de rosa dança jazz moderno em cima de um rochedo gelado, Alice vai parar pra ver. O tempo que for, ela assiste. E gosta. E atenção: ela está quieta, entretida e NÃO PRECISA DE MIM. Dá pra sair de perto, mandar um e-mail, ler um caderno do jornal, fazer pipi, pintar as unhas de vermelho: ela nem nota que eu saí. Parece pouco, mas para uma mãe que passa o dia com um bebê isso é muito, acreditem. E assim descobre-se que o risco maior é a mãe ficar viciada na TV, e não a criança. Muita autodisciplina é necessária pra gente conseguir ficar mais ou menos fiel ao princípio da não-televisão.

Mais ou menos porque, conforme venho fazendo frequentemente nos últimos 2 anos (ai que vergonha!), achei razoável afrouxar um pouco a regra. Então agora é assim: meus filhos não vão ver SBT. Não-vão! O resto a gente até negocia.

A TV Cultura, por exemplo. É legal, pô! Provavelmente por isso Tá sempre meio falida, mas tem uma programação bacana. Eles me deram Bambalalão e dão Cocoricó pra Alice, e só por isso já merecem pontos. É a única emissora onde seu filho vai aprender que o lago Titicaca fica na Bolívia, ou ver um cocô cantarolando suas virtudes. Fora que Hélio Ziskind, que faz as músicas todas, é o rei supremo das crianças. Tudo que ele faz eu gosto, e a criançada mais ainda.

A Globo não sei muito o que tem feito para as crianças além da Xuxa de sempre (sem-pre, god!). Nas poucas vezes que zapeei pela TV Globinho vi uns desenhos bobos e cheios de lutas que me cansam um pouco. Mas: a Globo fez os melhores infantis dos anos 80, fato. Plunct Plact Zum, A Arca de Noé, Casa de Brinquedos. Juntou as pessoas mais legais da música brasileira e botou o Kid Vinil vestido de boto em Verde que te quero ver. Enfim: fez história e merece meu respeito, ainda que hoje em dia não faça lá grandes coisas para o público infantil. 

SBT me dá nojo. Record, Gazeta, Rede TV? Sinceramente, nem sei o que eles têm de programação infantil.

E aí temos os canais fechados. Especialmente a Discovery Kids, que vai na veia da gurizada pequetita. Ainda não consegui decidir se pro bem ou pro mal, mas algumas das coisas ali me parecem legais, tipo Charlie e Lola, que é adorável, ou aquela Princesinha doida que é uma graça (ela é personagem dos livros do britânico Tony Ross, recomendo!), ou mesmo os Backyardigans, que me ganham pelos bichinhos dançando coreôs cafonas feito gente grande. Já Alice, para o meu desgosto, gosta daqueles adultos meio bobos do Hi-5. Tenho muita vergonha alheia por eles com aquelas roupas e trejeitos infantilizados, mas pelo menos acho do bem, eles contam histórias e se fantasiam e ensinam as cores ou os sentidos, sem grandes apelações. É tudo irritantemente politicamente correto, mas acho que nessa idade tem que ser mesmo, né? Mas não sei, esteticamente aquilo me desagrada muito, acho de uma cafonice mortal. E, de novo, a dublagem dói demais (alôu Discovery Kids, que acontece que todas as músicas dubladas por vocês perdem a métrica??? Chamem o Ziskind, faz favor!) 

Bom, o fato é que agora Alice assiste televisão, e por uma questão de coerência educacional eu fico tentando me convencer que não é tão ruim assim. Pois não é todo dia, nem o tempo todo, e nem qualquer coisa. E garante uma dosezinha de descanso e o consequente bom humor da mamãe aqui, o que me parece válido. Se isso não bastar como argumento, me resta dizer que por causa da tv eu conheci meu novo personagem favorito DA VIDA, aquele porquinho on drugs do Cocoricó que atende pelo nome de Astolfinho. Astolfinho canta, dança e representa. Astolfinho tem uns tiques que Alice imita e me mata de rir. Astolfinho me alegra e me dá esperanças de que a televisão, como a vida, pode sim valer a pena!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

:: Semana da Leitura e Literatura


Tô entrando meio atrasada nessa conversa, mas antes tarde do que nunca ("antes tarde do que nunca", o mantra dos picaretas!)

É que ontem, 12 de outubro, foi o Dia Nacional da Leitura. E também o início da Semana da Leitura e Literatura e da campanha "Brincar de Ler", cujo objetivo é estimular o contato da criança com os livros desde cedo, mesmo antes da alfabetização. 

Esse primeiro contato com os livros é fundamental para formar futuros leitores. E ser um bom leitor faz uma diferença brutal na vida, tenho certeza absoluta. Basicamente quem lê fica esperto e quem não lê fica meio limitado, feito aquele boçal do Big Brother que disse um dia na televisão a frase mais estúpida do século: "graças a deus nunca fui de ler livro" (tá, a notícia é velha mas me causa arrepios de horror até hoje. Se ignorância é das coisas mais tristes do mundo, o que dizer de ignorância orgulhosa?).

Eu fui daquelas criancinhas que estava sempre com a cara enfiada num livro, e sei o quanto isso me ajudou a ler bem, e escrever, e me expressar, e ter um bom vocabulário, etc etc etc. O hábito da leitura veio de casa, desde sempre, e acho fundamental dar pra Alice o mesmo estímulo que recebi dos meus pais.

Pensando nisso me dei conta que tenho estimulado a leitura bem menos do que gostaria. Ou melhor: tenho LIDO bem menos livros do que gostaria. A verdade é que Alice me vê muito mais no computador do que com um livro nas mãos (até porque leio antes de dormir, quando Alice já não está comigo). Eu ando um pouco escravinha da internet, o que precisa ser revisto djá! Criança aprende com exemplo, gente! Quando Alice for uma adolescente que não sai do computador, eu vou me lembrar do exemplo besta que dei pra ela e ficar me martirizando pra sempre. Então a hora de mudar esse exemplo é agora. Foi ótimo começar a  pensar sobre isso pra perceber como eu tenho agido mal nesse sentido, mesmo me considerando uma mãe consciente e super a favor da leitura desde sempre. 


Pra ajudar os pais a incentivar a leitura, o Instituto Ecofuturo criou um livreto com informações e dicas para formarmos futuros leitores. Copio aqui um trechinho:



O livreto na íntegra está aqui (inclusive temos as páginas acima em tamanho decente para não maltratar as nossa vistas cansadas, tá gente? Não consegui aumentar o tamanho na hora de colar aqui...)

E pra quem quiser, eles estão sorteando em alguns blogs a versão impressa desse livreto, que vem com um CD com uma música do Palavra Cantada chamada "Brincar de Ler" - já ouvi, é bem legal.

Pra participar, deixe um recado dizendo "eu quero" aqui nos comentários. (Quem não tem blog ou conta google com email aparecendo, por favor deixe algum email pra contato, senão fica difícil achar o vencedor. Tá?)

Esse sorteio também está rolando nos seguintes blogs:



(minto minto minto, o sorteio nesse blog já foi feito! Mas vale ler o post, de qualquer maneira.)



(mais alguém?)

E a Letícia, do Cotovelos e Cotovelinhos,  propôs uma blogagem coletiva sobre o tema e tem um monte de gente legal participando.  Passem lá, leiam, participem! A causa é mais do que importante! 

Boa leitura!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

:: Presentinho de Paris


E no dia do meu aniversário chegou pelo correio uma caixa vinda da França. Dentro dela, o "Leite Derramado" autografado pelo meu ex-quase-vizinho Chico Buarque (opa Chico!, tudo bem?) e enviado pela figura mais divertida de Paris inteira, D. Mariza, aquela do ménage.

Putz, que saudade que me deu da Mariza! Olha ela aí, com Alice, no dia em que a gente tava indo embora (lágrimas, lágrimas):


Mariza um dia chegou em casa com esse cabelo aí da foto. Comentei que ela tava chique e ela:
- mas esse cabelo não é natural meu não.
E eu: - Ah não? Você fez o que com ele, mexeu, pintou, alisou?
E ela: - Não, eu comprei!

Ela descobriu a praticidade do perucão e usava feliz da vida.

Depois apareceu de dreads. Contou que bateu boca num bar e no meio da treta pensou: "não posso brigar, se eu for pra cima ele vai puxar minha peruca". Então ela desistiu de bater no cara, e desistiu da peruca, e decidiu fazer os dreads. "Agora eu posso brigar na rua que ninguém me arranca o cabelo fora", ela disse, e eu ri horrores. No fim das contas ela tirou os dreads e voltou pra peruca, mas isso já deve ter mudado de novo e não sei com que cabelo ela se encontra no momento.

Morro de saudade dela dizendo "Alice! Alice aux Pays des Merveilles!", e a Alice se jogando feito doida em cima dela. Como é ruim deixar pessoas queridas pra trás, mon dieu.

Receber o livro, e com um autógrafo - e digo mais: "um abraço e o carinho de" - escrito de próprio punho por Chico Buarque e dirigido a MIM, m-i-n-h-a-p-r-ó-p-r-i-a-p-e-s-s-o-a, foi algo realmente notável. Mas preciso confessar que foi o nome da Mariza, ali no remetente da caixa, que me fez ficar definitiva, inabalável e incrivelmente feliz.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

:: Palabéns pla mamãe!

(Acordei com essa musiquinha hoje, posso?)


Daí que hoje eu fiz 30 anos e criei juízo instantaneamente tudo continua absolutamente igual. Então, pra dar uma graça diferente pro dia, quero ir fazer algo bem legal pra me parabenizar. Um dia apenas de automimos, o que acho justo, porque essa coisa de virar balzaca está mexendo um pouco comigo.

(Acabo de lembrar que quando eu era jovenzita queria muito fazer 30 logo pra começar a usar cremes anti-rugas. Que lógica torta, deus do céu!)

Quando a ressaca passar eu volto! ;)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

:: "Entre os muros da outra escola"

Li esse texto por indicação da Ro e da Lu, e fiquei de cabelo em pé. Achei que valia a reprodução.
(o texto foi tirado do site da revista Época. O link é esse)

Entre os muros da outra escola
Está na hora de enfrentar a violência também no ensino privado
ELIANE BRUM
 Reprodução
ELIANE BRUM
ebrum@edglobo.com.br 
Repórter especial de ÉPOCA, integra a equipe da revista desde 2000. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de Jornalismo. É autora de A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo)

Eu a conheci anos atrás. Conquistou-me de imediato. É cada vez mais raro encontrar uma criança bem educada, que diz por favor, obrigada e com licença. Que pede desculpas se esbarra em você sem querer. Que dá oi e dá tchau. Que pergunta se você está bem. Ela é assim. É agora, aos 11, quase 12 anos. Era aos 5, quando nos encontramos. Gostava de barbie e de desenhos animados, mas vez ou outra assistia a algum filme do expressionismo alemão com interesse. Ouvia Palavra Cantada e Chico Buarque com igual deleite. Éramos ambas – e somos até hoje – fãs quase fanáticas dos livros do Harry Potter. Filha de mãe escritora, pai economista, ela tinha, ao mesmo tempo, estímulo para voos intelectuais mais largos e respeito por seus gostos infantis, o que sempre me pareceu um jeito sábio de educar. Para mim, ela sempre foi impossível de não se gostar. 

É triste não poder aqui colocar o nome desta menina tão especial. Mas seu nome não será revelado para protegê-la de seus colegas, precaução por si só chocante. Na semana passada eu soube por sua mãe que ela deixaria a escola que cursa há anos. Foi sendo expulsa pelos colegas, sem que os professores nada fizessem. Estuda numa das escolas de elite de São Paulo. Bom projeto pedagógico, turmas pequenas, inclusão de crianças com necessidades especiais. Tudo de bom e de moderno, aparentemente. O que, então, aconteceu, para que uma boa aluna, uma garota afetuosa e bem educada, tenha de partir porque a escola se tornou um filme de horror? 

Muito se escreve e se fala sobre a violência nas escolas públicas. E o tema é sério e relevante. Mas está na hora de prestarmos mais atenção no que ocorre na outra ponta da desigualdade social refletida no sistema de ensino brasileiro: as escolas privadas de elite. Diante da piora progressiva da qualidade da escola pública, a classe média vem esfolando o orçamento para matricular seus filhos em escolas privadas, com a convicção de que assim têm mais chance em um mundo competitivo. 

Por que a classe média não brigou – e não briga – pela qualidade do ensino público em vez de se bandear para a educação privada? Eu mesma cursei o ensino médio em escola pública (uma péssima escola pública, diga-se), mas tomei o mesmo caminho de boa parte dos pais de classe média ao matricular minha filha: esfalfei-me durante 11 anos para pagar um dos colégios privados mais caros de Porto Alegre. Por que não fui brigar por qualidade de ensino dentro da escola pública? Por amor pela minha filha, sem dúvida, mas também por empatia de menos pelo destino dos filhos dos mais pobres, provavelmente. Na hora de escolher, optei por resolver o problema “dos meus”. 

Muitas vezes, eu deixava de pagar todas as contas para pagar a escola. Nunca atrasei o colégio para que ela não sofresse constrangimento, nem a luz para não ficarmos no escuro. O restante das despesas atrasei todas durante boa parte desse período, o que me rendia noites recorrentes de insônia e humilhações sem fim diante de gerentes de banco. Mesmo assim, nunca me passou pela cabeça matriculá-la numa escola pública, tão certa eu estava de que fazia o melhor – para a minha filha. 

O péssimo desempenho do Estado na educação e a falta de cidadania de gente como eu permitiu que essa situação se perpetuasse até níveis inacreditáveis. O resultado estamos amargando faz tempo, mas não tenho dúvida de que será muito pior em sentidos que ainda não alcançamos por inteiro. As escolas talvez sejam as maiores reprodutoras de desigualdade. Não apenas na questão da qualidade, que determina destinos. Mas no convívio cotidiano, no (não) exercício da solidariedade e do respeito às diferenças. Seja nas públicas ou nas privadas, o que encontramos é uma convivência entre iguais. Nossos filhos não conhecem a diferença, não são beneficiados pela riqueza da diversidade. Não conjugam a tolerância. Quando confrontados com a diferença – e não apenas a socioeconômica –, expulsam-na. 

Foi o que aconteceu com a menina desta história. Tempos atrás, ela ligou para a mãe no recreio, implorando para que fosse buscá-la. “Eu não suporto mais ficar aqui”, disse. Suava muito, desesperava-se. Sua mãe respondeu que ela precisava permanecer. E ela está resistindo como pode até o final do ano, para então trocar de escola. 

Liguei para minha pequena amiga para saber o que estava acontecendo e propus uma entrevista. Em off, para que ela não fosse mais trucidada na escola do que já é. Ela topou. E aqui está a transcrição literal da nossa conversa, para que seu testemunho possa nos ajudar a pensarmos juntos num problema que é de todos. 

Eu: O que aconteceu? 
Ela: Eu não sou aceita. Meus colegas me acham meio estranha. Acho que me acham idiota. 

Eu: Mas por quê? 
Ela: Eu não gosto das conversas deles, me sinto mal. Acho que tenho um jeito diferente de pensar que eles acham bobo.

Eu: Mas que jeito é este? 
Ela: Eles gostam de ficar ridicularizando os outros. Eu não quero fazer isso. 

Eu: Mas quem eles ridicularizam? 
Ela: Nossos colegas que têm dificuldade (portadores de necessidades especiais). Eles às vezes precisam fazer provas mais fáceis. Aí chamam eles de burros, de idiotas. Eu acho isso muito injusto. Queria poder fazer alguma coisa, mas eu não sei o que fazer. E os professores não fazem nada. 

Eu: Quem mais eles ridicularizam? 
Ela: Gente que não usa roupa de marca, que não gosta do que eles gostam. 

Eu: E do que eles gostam? 
Ela: De funk, por exemplo. Adoram funk. Eu não gosto de funk, daquelas letras. É muito sem conteúdo. Mas gosto da Hannah Montana e da Rihanna. Eles também gostam daqueles programas de TV que ridicularizam as pessoas. Acham que isso é engraçado. E ficam falando das marcas das roupas que usam. Ah, essa calça é da marca tal. Esses dias uma menina disse para a outra: “Ah, o seu pai é milionário”. Aí essa menina respondeu: “Mi não. Bi-lionário”. Pensei: “E você é bi-polar”. Pensei, mas não disse. 

Eu: E o que começaram a fazer contigo? 
Ela: Eles não falam comigo. Eu pergunto, não respondem. Sabe, teve uma festa, uma balada, mesmo, que convidaram todo mundo. Eu fui uma das poucas que não fui convidada. Aí só ficavam falando nesta festa. E eu não sei por que eu não fui convidada. Eu nunca fiz nada de ruim para nenhum deles. Não entendo por que não gostam de mim. Minha melhor amiga também começou a me ignorar. Eu chego, ela sai de perto. Ela começou a ficar popular na escola. 

Eu: E o que é ser popular na escola? 
Ela: É usar roupa de marca e sair pisando em todo mundo. 

Eu: O que mais te faz sofrer? 
Ela: Ficar sozinha no recreio. Eu queria brincar, conversar, mas não tenho com quem. Só eu e o menino com problema mental ficamos sozinhos no recreio. É muito ruim ficar sozinha no recreio. Eu fico muito triste. 

Eu: E por que você não fica com o menino com problema mental? 
Ela: Porque ele é menino. Eu não tenho muito o que conversar com menino. Mas eu queria poder fazer alguma coisa. Porque ele fica lá sozinho, desenhando. E eu sei como é ruim ficar sozinha no recreio. 

Eu: Por que você acha que seus colegas são assim? 
Ela: Eles são que nem os pais deles. Nessa coisa das marcas, do dinheiro. Mas quem cria meus colegas, mesmo, não são os pais. Eles nunca ficam com eles. Eles estão trabalhando ou em jantares. Meus colegas são criados pelas babás. Elas são as mães de verdade deles. 

Eu: E como eles tratam os professores? 
Ela: Essa minha ex-amiga chama a coordenadora de “idiota” e de “imbecil” na frente dela. Não é pelas costas, é na frente. Ela acha que o pai vai pagar para ela passar de ano. Numa excursão, teve um colega que disse para o monitor: “Essa sua profissão é uma m...”. Eles são assim. Acham que vão herdar o dinheiro dos pais. Mas eu tenho impressão que vão gastar todo o dinheiro bem rápido. E aí não sei como vão fazer para trabalhar. 

Eu: Você chora muito? 
Ela: Antes eu chorava. Teve um dia que pedi para minha mãe me tirar de lá. Liguei para minha mãe no recreio. Não sei por que eu fiquei assim tão mal. Eu suava. Sabe, fiquei desesperada. Mas agora aprendi a lidar com isso. Estou administrando melhor a situação. Levo um livro para o recreio. Agora estou lendo “Coraline e o mundo secreto”. Você viu o filme? Foi baseado no livro. 

Eu: E quando você decidiu mudar de escola? 
Ela: Quando fui sentar ao lado de um menino e ele disse: “Desinfeta daí”. Eu fiquei sentada onde eu estava. Mas sei que ele não diria isso para outra menina. Acho que falou para mim porque eu não fui convidada para aquela festa. Eu estava aguentando, mas aí foi a gota d’água. 

Eu: Você acha que no novo colégio vai ser diferente? 
Ela: É uma escola maior. Tem mais gente. Então, deve ter alguém mais parecido comigo, né? 

Espero que sim. Desliguei o telefone com medo dos pequenos monstros que conseguem expulsar de seu mundinho alguém tão doce quanto a minha amiga. O que eles vão fazer com o mundo maior quando crescerem? Que tipo de elite nossas escolas estão formando, para além de se dar bem no vestibular e no mercado de trabalho? O cotidiano nas escolas privadas do país pode ajudar a explicar o que acontece hoje nas esferas de poder da vida brasileira. 

A crueldade infantil não é novidade. O massacre daqueles que usam óculos, são gordos ou diferentes de alguma maneira é um clássico. Bullying é a palavra inglesa para o abuso físico e psicológico cometido contra indivíduos e grupos mais fracos. Nos últimos anos, tem crescido o número de reportagens na imprensa sobre o bullying na escola. Parece-me que há algo novo neste cenário. E bem mais perverso do que as formas habituais de maldade infantil. 

Minha amiga foi sendo expulsa porque está sozinha. Sua esperança na nova escola é conseguir formar um grupo com valores mais semelhantes aos dela para resistir. Para, de alguma maneira, sentir-se parte, para então ter alguma possibilidade de interlocução com outros modos de existir. O modelo brasileiro de ensino – resultado de uma das maiores desigualdades do planeta e do declínio da escola pública – caracteriza-se por um mundo escolar cada vez mais igual dentro dos muros. Nos respectivos guetos, o espaço para toda a diferença parece ter sido suprimido. 

Estou generalizando? Pode ser. Mas apenas converse com um professor de escola privada de elite para que ele conte suas peripécias cotidianas com estes mais iguais que os outros. Já tenho sido vítima destas crianças sem limites, sem cultura e sem educação que me atropelam nos corredores dos shoppings e restaurantes, que gritam suas exigências e fazem cenas públicas, sem que seus pais tomem qualquer atitude além de prometer algo em troca de sua colaboração. 

Acho que está passando da hora de entender que há um tipo de violência sendo exercido e perpetuado nas escolas privadas de elite. E que essa violência é refletida também lá, nas escolas de periferia, onde a agressão é armada. As violências destes mundos escolares só aparentemente antagônicos se retroalimentam. Uma existe também por causa da outra. Há uma infância supostamente protegida e com todos os acessos abertos ao conhecimento e ao melhor que o dinheiro pode comprar – e outra desprotegida de tudo, que só recebe o pior. Separadas por grades, muros e cercas eletrificadas, uma desconhece a outra. Muitas vezes vão se cruzar mais tarde, pela violência, em alguma esquina da cidade. E são os pais e as mães destes meninos desprotegidos que alguns dos protegidos desrespeitam nos corredores de suas escolas iluminadas, ao encontrarem-nos limpando o chão ou exercendo serviços que consideram, como disse o menino na excursão, “uma m.”. 

A escola deveria promover a intersecção dos mundos. É nos bancos escolares que as diferentes realidades – não só a socioeconômica, mas também ela – deveriam se cruzar e dialogar. É na desigualdade de ideias, de culturas e de visões de mundo que se aprende e se avança. Esta desigualdade do bem, porém, foi banida do modelo de ensino. Em vez disso, a escola transformou-se em reprodutora da desigualdade perversa: a socioeconômica, com todos os seus (des)valores correlatos. A escola é resultado da desigualdade socioeconômica e de uma sucessão de políticas desastrosas de ensino. Mas, se é criatura deste mundo, é também criadora, ao reproduzi-lo. Ao transformar-se numa linha de produção da desigualdade que beneficia os mais iguais de sempre, deixa de educar. Este, me parece, é o dilema atual. Ou, pelo menos, um dos grandes. 

A ilusão dos pais de filhos em escolas privadas é de que, ao colocá-los lá, garantem a sua proteção. Seus filhos não perdem nada. Quem perde são os filhos dos outros, que não conseguem pagar a mensalidade. Engano. Perdemos todos. A eliminação da diversidade trará consequências mais perversas do que me parece que pais e autoridades têm percebido. Sem diferença não há diálogo. É possível educar sem diversidade? Há aprendizado de fato sem dissonância? Duvido. 

Nas escolas de elite, os estudantes ameaçam professores e funcionários não com pistolas, mas com outro tipo de arma: “Sou eu que pago seu salário!” ou “Meu pai vai mandar te demitir!”. Quantos professores já não ouviram frases como essa ao tentar impor limites na sala de aula para esses projetos de déspotas? Já testemunhei professores esvaindo-se em lágrimas e jurando mudar de profissão. E não davam aulas em escolas com esgoto a céu aberto. 

“Estas crianças são criadas pelas babás”, disse a mãe da minha amiga. “Ou seja: elas já mandam desde pequenas naquelas que deveriam ser uma autoridade. Se elas podem demitir a pessoa que está no lugar de autoridade, o que se pode esperar?” Ela tem razão. E é bom começarmos a refletir com mais seriedade sobre esse fenômeno contemporâneo. 

Minha filha sofreu muito na escola privada. Ela não tinha tênis nem roupas de grife, entre outros defeitos inaceitáveis. Eu disse a ela que o mundo era duro e que ela precisava enfrentar esse tipo de gente desde sempre. Ela enfrentou. Na vigésima vez que o filhinho de papai ridicularizou a sua roupa, ela bateu no menino. Foi uma boa saída? Claro que não. Mas foi o que ela conseguiu fazer diante da minha surdez. 

O mais curioso, mas nem tanto, é que em vez de minha filha ser punida por ter agredido o colega, foi parabenizada pelos professores. Um a um eles vinham cumprimentá-la e dar parabéns. De algum modo, ela vingava a humilhação cotidiana de todos eles. Mas seria esta uma boa pedagogia? Estaria esta resposta à altura de alguém que estava ali para ensinar? O episódio não teria sido uma boa oportunidade para discutir, refletir e aprender? Parece-me que também os professores, por diversas razões – e também pela humilhação cotidiana –, não conseguiam estar no lugar que deveriam, não era possível ali a dialética entre mestre e discípulo. 

“Talvez tudo o que esses garotos sabem dos pais é que são ricos. Criados por babás, tentam manter esse traço, esse significante do rico/pobre para manter em si os pais que de certo modo não existem”, comentou minha filha, hoje adulta, depois de ler este texto. “Não estou justificando”, disse. “Só pensando.” Seu comentário me fez perceber que estas crianças e adolescentes que fazem sofrer também devem sofrer muito. Afinal, eles não são monstrinhos, como tendemos a pensar. Se fossem, seria mais fácil. São gente. E gente sofre. 

Desejo sorte à minha pequena amiga na nova escola. A melhor resistência é continuar sendo ela mesma. Mas temo pela sorte de todos nós no futuro próximo se não enfrentarmos a violência não apenas nas escolas da periferia, mas nos prédios imponentes e caros do lado privilegiado do mundo. Uma violência que começa não fora, mas dentro de casa, tendo os pais como cúmplices – quando não como exemplos. 

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