terça-feira, 1 de outubro de 2013

:: Da série: Criei um monstrinho nerd


Lili fez 6 anos e ganhou um jogo Imagem e Ação Jr. - aquele de desenhar uma palavra de um cartão para o time adivinhar, lembram?

(Pausa para um suspirinho de alívio ao perceber que os jogos da nossa infância ainda existem - alguns até conseguiram escapar das franquias infantis dominadoras do mundo!)

 (E um minuto...

 ...de silêncio...

 ...pelos companheiros...

...que não tiveram... 

...a mesma sorte.)

:'(


Mas eu dizia que ela fez 6 anos, ganhou o jogo e ficou toda feliz. Puxou um cartão, escolheu a palavra e começou a desenhar. 

Um retângulo.

- Chocolate!

Outro retângulo em cima do primeiro.

- Estojo! Prédio!

Quadradinhos alinhados dentro do retângulo de baixo.

- Calculadora! Computador!

 -Isso, computador. Mas não é, continua.

(Cabe lembrar que pela regra do I&A eu já teria sido eliminada depois do terceiro chute, mas quem liga para regras? Quem lê regras? Quem ensina regras para os filhos?)

Bom, no fim o desenho ficou mais ou menos assim:



...e as setas deixaram claro que se tratava de algo dentro da tela de um computador.

- Foto? Texto? Vídeo? Letras?

- Não. É "POST", mãe. 

- Oi?

- Post. Tipo quando você trabalha, você faz um post. Né?

É. Mas que estranho aparecer "post" num jogo tão vintage como I&A. Que estranho.

- Certeza que é post, filha? 

Ela tinha tanta certeza que me deu o cartão para ler.

A palavra era POSTE.

(E #asblogueiraPIRA! \o/ \o/ \o/)




quinta-feira, 13 de junho de 2013

:: Desculpe mas eu vou chorar


Aí a maternidade vem e pá!, bota dentro da pessoa um alter ego chorão que não estava ali antes. 

Eu virei o tipo de pessoa que chora no balé da filha, chora na natação, chora porque descobriu um dente mole na cria (mais essa agora!). Eu choro das bonitezas da vida, de raiva dos filhos, de raiva de mim, de orgulho, de alegria, de cansaço. Choro com músicas, filmes, vídeos de parto de desconhecidos. Meu deus, como eu choro!

E cabe aqui uma explicação: na adolescência, um amigo me definiu como "BZ, a mulher sem lágrimas - não chora nunca, foi treinada para isso!". É que eu sempre fui durona (pode substituir por insensível, travada , icequeen, blasé ou orgulhosa, escolha à vontade!). Nunca fui de verter lágrimas por qualquer porcaria, não senhores. Chorar era pra dor física e olhe lá. Topada de dedinho no canto do móvel me arrancava umas lagriminhas, mas um filme insuportavelmente lindo, jamé! 

Então os anos se passaram, eu pari duas crianças e agora eu choro, ok?

E aí me vem o destino e bota dentro da minha casa uma filha ensaiando TRISTEZA DO JECA para a festa junina. Me diz se isso vai prestar? Não vai.

Alice faz cara de sofrimento e canta afinadinha bem assim:

"Eu nasci naquela serra, num ranchinho beira chão...", com ênfase no "beIra", o I bem prenunciado. 

PORRA! Como não chorar diante de um ranchinho beIra chão? É tão bonitinho ver uma criança falando beIra, gente! "Ranchinho beira chão", que imagem linda! (ainda que eu não saiba bem o que venha a ser isso... - É porque o chão é todo ESBURAÇADO - ela faz cara de dúvida e corrige - ...cheio de buracos, então é "BEIRA-CHÃO", entendeu?, e quem sou eu pra dizer que não?).

Mostro pra ela a versão de Tonico e Tinoco e ela diz que é tão triste que dá vontade de chorar  (parafraseando a música e forçando umas lágrimas sem vergonha, a espertinha). E dá vontade mesmo. Tonico e Tinoco, poxa vida! Eram tão adoráveis com aquele sotaque arrastado de Araraquara (eles não devem ser de Araraquara, mas não tem cidade melhor pra exemplificar o sotaque, com esse tanto de erres a serem puxados, rá!). Tonico & Tinoco é muito amor, é Brasil raiz, é cultura popular! E eles morreram, ainda por cima. Tonico & Tinoco are dead. Isso, mais a minha minha filha cantando "ranchinho beIra chão" com olhos tristonho (porque ela sabe que o Jeca é um cabra triste), pensem se não é para fazer chorar a mais durona (insensível/travada/blasé etc) das mães?


Se não for suficiente,  ainda posso lhes dar mais uma razão.


Professora veio me contar do seguinte diálogo que aconteceu na escola enquanto eles discutiam os motivos do Jeca ser tão triste.

- É porque a mulher dele morreu, disse um.

- Não! É porque ele é apaixonado por duas mulheres, mas só pode ficar com uma, opinou outra (quem adivinhar quem ganha um doce...)

- Nossa, IGUAL A VOCÊ, ALICE!, que é apaixonada pelo Mateus e pelo Davizinho ao mesmo tempo!!!

Cataploft!

E a mãe faz o quê? Chora, né? De rir também vale, ora pois!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

::Estar pronto é tudo


"Readiness is all", dizia o pancadinha do Hamlet (aquele que, como todos sabem, não tinha filhos¬¬)

Então, para encarar a maternidade, eu tento estar sempre pronta. Tento mesmo. Mas te digo, colega, que não há livro, blog, mãe, amiga, médico, lista nem revista que te prepare para isso:




"eu sou uma unha de filha que aponta para o alto e avante, lide com isso"


A sorte é que sempre tem alguém pronto, ufa! No meu caso, duas moças porretas que a blogosfera me apresentou e que são escaldadas no assunto - gente dessa turma que faz balé até a unha cair, sabe o tipinho? 

Thais e Fabíola, suas lindas, muitíssimo obrigada pelas dicas! Depois conto se sobrevivemos todos (mãe, filha, unha e blog) ao ocorrido e a essa foto absolutamente indecente que eu tive coragem de publicar... ;)


Update:

Com Alice acidentada e Lucas com febre (combo completo, why not?), desencanei da escola e promovi uma sessão de filme & pipoca no sofá, aproveitando para fazer um escalda-pés na mocinha - dica das bailarinas kamikazes citadas acima.

Agora, depois de uns 40 minutos imerso em água morna, sal e vinagre, o pézinho da Alice tem o seguinte aspecto:

mimoso, enrugadinho e com a unha cabisbaixa, bom sinal!


Fiquei toda prosa com a unha cabisbaixa, me achando uma mãe muito sucesso,  até perceber que o Lucas estava degustando as suas pipocas molhadinhas em água, sal e vinagre. Adivinhem?

Pois é. Esta é a minha vida, este é o meu clube. Depois eu digo que NUNCA vou estar totalmente pronta para os filhos e as pessoas acham que eu tô exagerando.




segunda-feira, 22 de abril de 2013

:: A Noviça Rebelde


(...Ainda falando de música, para meu deleite!)





A última virose que visitou a nossa casa foi gentil e trouxe um DVD da Noviça Rebelde de presente.

Gen-te!

NOVIÇA REBELDE

Não sei se essas palavras causam em vocês o mesmo que causam em mim. Palpitações, gagueira, borboletas no estômago. O nome disso é paixão, certo? Eu era absolutamente enlouquecida pela Noviça Rebelde quando era pequena. Decorei as músicas em idos de 1988 e nunca mais esqueci.

Visto 25 anos depois, o filme é bem canastrão. Adorável, fofo, esmagável, mas canastrão. Mas foi interessante revê-lo adulta e na perspectiva de mãe. Se antes eu pirava na criançada cantando, dessa vez a cena que me rendeu lagriminhas foi a do pai finalmente se aproximando dos filhos. Ele passa mais de uma hora sendo um grandessíssimo babaca, aí todos cantam que the hills are alive with the sound of music e ele vira um paizão firmeza, abençoado seja o poder da arte. Tá, né?

Também percebi pela primeira vez o fundo político da história (anexação da Áustria pela Alemanha nazistas - fujam para as montanhas, Von Trapps!). Quando criança, eu sempre parava na primeira metade do filme. Acompanhava até a cantoria faceira da crianças na festa (o teatrinho de fantoches, coisa linda!), dava rewind no VHS e começava de novo. A segunda parte, mais sombria, eu ignorava.

(E também percebi pela primeira vez que o capitão Von Trapp é o Christopher Plummer! Mas gente?)




A Lila não parou na cantoria, ela quis ir adiante. Eu mal me lembrava, mas a noviça ("NOVISTA", segundo Alice, hoho!) se casa com o capitão, sim senhores! Um casamento com muita pompa, ao que Alice teve a reação mais inacreditável que eu já vi: olhos arregalados, peito estufado, boca aberta num riso doido e...

- EU-NÃO-TÔ-CON-SE-GUIN-DO-RES-PI-RAR!!! - e abanava as mãozinhas no ar de emoção!

Pois é. A minha filha hiperventilou, chilicou, teve um faniquito de amor porque a mocinha se casou com aquele cara canastrão. Que é isso, gente? Quem ensina essas coisas? De onde isso veio, para onde vai? Mistérios da humanidade.


Mas enfim, o ponto alto do filme são mesmo as músicas. Alice e Lucas piraram do mesmo jeito que eu pirava: cantando, imitando as coreôs, caprichando no embromation e, claro, SENTINDO A MÚSICA!



Som na caixa!


 Von Trappinhos da mamãe!



terça-feira, 2 de abril de 2013

:: Notinhas musicais


Depois de um show da Bethânia a pessoa fica empolgada, gente. É inevitável.

Então a mãe tá lá, toda salamaleque, toda pombagira, toda trabalhada na melemolência de Santo Amaro da Purificação, rodando & batendo palmas & remexendo o pandeirão & cantando do fundo da alma: "QUEM NÃO REZOU A NOVENA DE DONA CANÔ?"

E o filho, todo nem-aí, folheando um livrinho:

- Eu não.

***

Horas depois, as duas crianças se encontram em um dos melhores lugares para se estar (principalmente quando se é criança): um estúdio de som cheio de instrumentos. E o melhor: com passe livre para brincar com eles!

Que se registre, com muito orgulho!, que meus filhos são enlouquecidos por música. Têm ritmo, têm ginga e têm bom gosto (disse a mãe, hehe). Então o Lucas despeja toda a sua energia na bateria enquanto Alice se atraca no microfone (ela tem um treco com microfone, câmera e que tais, diz que ser ser "cantora e atora" quando crescer). Depois trocam. Destrocam. Exploram. É botar as duas criaturinhas dentro de um estúdio que elas ficam feito pinto no lixo! Quem precisa de Disney quando se tem um estúdio de som?

Fica uma palhinha da Alice, toda drama-queen, interpretando uma música linda (e muitíssimo complexa, reparem) do seu vasto repertório.


Lila, cantando e encantando ;)

terça-feira, 26 de março de 2013

:: Aula de teologia, por Alice


- Mãe, deus existe?
- Err, humm, cof-cof. Tem gente que acredita que sim, gente que acredita que não, gente que não sabe. Tem gente que acredita em vários deuses, um para cada coisa! Existem várias religiões e...
- O que é religião?
- Religião é um conjunto de crenças que...
- O que é crença?

...E assim a conversa seguiu, ad infinitum - o que é santo?, o que é anjo?, deus morre?, etc etc, até que...

- Eu acho que deus existe, mãe.
- É, filha?
- É. Porque pensa... os bebês. De onde eles vêm. 

(Mãe suando frio, quem nunca?)

- Os bebês vêm da sementinha, né? A sementinha que corre, aposta corrida. (Quem disse isso pra ela, gente?) MAS SEMENTE NÃO CORRE, mãe. Então é deus que faz isso, ué. Eu acho.

Se ela acha, então tá, né? ;)

(o Deus do Laerte - na dúvida, esse ainda é o meu favorito!)

quarta-feira, 6 de março de 2013

Essa menina, tão pequenina, quer ser bailarina


Cecília Meirelles sabia das coisas. Não importa quão pequeninas as nossas meninas sejam (e elas sempre serão), vão amar bailarinas desde sempre.

Tá, mentira, que soy contra generalizações de todo tipo. O fato é que aqui em casa existe uma menininha fascinada por bailarinas - filha da mãe dela, aliás. Eu fui uma criança absolutamente delirante com essa coisa de balé, me achava a graciosidade suprema do planeta Terra. A dura realidade era essa:


Praia do Bonete, 1984. Essa menina tão pequenina quer ser bailarina, coitada. Alguém avisa?


Bom, a Alice pede para fazer balé desde aprendeu a andar (ou a pedir, não lembro o que veio primeiro). Por circunstâncias da vida (idades, horários, escolas, semestres, dinheiros, etc) fomos enrolando, adiando, esperando ela crescer um pouquinho. O que achei muito bom, pois permitiu que ela fantasiasse à vontade com o tal do balé. Para ela, ser bailarina significava atirar pernas e braços para todos os lados com um olhar languido e depois rodopiar até ficar bamba (filha da mãe dela, hehe!). Uma vez ela armou um showzinho junto com uma amiga que já fazia balé, e a diferença era gritante: enquanto a amiga dançava muito compenetrada uns passinhos bem marcados, Alice girava e saltava como uma borboleta alucinada. Ambas adoráveis, claro, mas a liberdade da dança da Alice me comoveu, e eu sabia que essa espontaneidade sumiria no instante em que ela fizesse a primeira aula. Pois é, a vida tem dessas.

Eis que, aos 5 anos e meio, o grande dia chegou. Numa emoção incontrolável, a mocinha vestiu o collant preto, a saia rodada, as sapatilhas e um sorriso de orelha a orelha, e foi à luta! Não precisou da minha ajuda: foi entrando na sala e se aproximando devagar das outras meninas, com os olhões arregalados e um riso nervoso, enfrentando uma timidez que não a impediu de fazer esse primeiro contato. E eu ali roendo unhas, tensa com um dos maiores desafios sociais dela até então - porque não sei se é impressão minha, mas já percebo nas turmas de 6, 5 anos aquela coisa um pouco hostil de grupinhos fechados, um comportamento quase pré-adolescente de excluir, maltratar, competir, sacanear. Tive medo da recepção da minha pequena por aquele grupo já formado, de meninas um pouco maiores. 

E fiquei vendo por trás do vidro, com cara de besta e pronta pra invadir a sala e dar na cara da primeira que se fizesse de engraçadinha com o meu bebê, a minha menininha sendo muito mais corajosa e hábil do que eu sempre fui em situações parecidas. Alice se aproximando. Alice sorrindo simpaticamente. Alice, meu deus, puxando papo! Filha da mãe dela uma pinóia, né? Ela me deu um pau federal, que eu sou banana desde criancinha! You go, girl! 

Além de conhecer a notável habilidade social da minha filha, nesse dia também fui apresentada à dedicação, à concentração, à vontade de acertar da pequena. Dei tchau para a espontaneidade doida dela e boas vindas para essa disciplina que percebi que ela tem, esse prazer de se levar a sério e saber que está fazendo um bom trabalho (e filha da mãe dela my ass, sou um caos de criatura, careço muito de disciplina e seriedade nessa vida). 

Toma essa disciplina, esse olhar centrado, essa perninha caprichosamente embutida na saia! 
E isso foi um dia antes da primeira aula, hein?


E foi assim, com a testa colada no vidro, que conheci mais um pouco da pessoinha ótima que a Lila está virando, cada vez mais livre das minhas asas e do meu olhar protetor. Então engoli as lágrimas pra não ser a mãe louca que constrange a filha na frente das (novas) amiguinhas, corri para a sala ao lado e fiz uma aula de pilates, pra disfarçar. Aula esta que me rendeu DOR DE GARGANTA, pode isso produção? Dor muscular na garganta foi algo completamente inédito para a minha pessoa, e eu já passei poucas e boas, viu?

Enfim, eu podia extrair desse episódio uma metáfora sobre o amadurecimento, ou uma lição sobre a não-determinação dos genes sobre a personalidade de uma criatura - mas a  principal conclusão desse post é que, de uma filha corajosa pacas a uma dor de garganta inusitada, a vida é cheia de surpresas. É ou não é?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

:: Se alguém de repente lhe oferecer flores...


Alegria de fim de tarde: chegar em casa e encontrar uma entrega de flores para a minha pessoinha. Flores não: todo um combo floral, que inclui também uma porção de bombons rechados, um cartão misterioso e um laço bem bonito. Naquele dia nem era meu aniversário, nem data especial, nem nada. Um dia como todos os outros - mas com flores em cima da mesa, nhóim!

Filho olha curioso. Filha faz ÓÓÓ e pergunta se são para ela (é que quando fez 5 anos ela recebeu flores do bisavô - ficou toda prosa e agora acha que a vida é assim, que ela é a mulher da casa mais propensa a receber tais mimos). Olhamos juntas o nome escrito no cartão: não, filha. Dessa vez é para a mamãe mesmo.

E aí eu, besta, resolvo fazer uma cena.

- Uau! Alguém me mandou flores, que emoção! Quem será que foi? 

Eu sei quem foi, claro. Mas valorizar exageradamente o momento para regozijo próprio, quem nunca? O cartão não veio assinado, então pronto, remetente oculto. "Alguém" me mandou flores! Planejo olhares de mistério e pausas dramáticas, mas nem dá tempo.

- Fui eu - diz Lucas, 2 anos e meio, com a cara mais lavada desse mundo. E, sem mais, sai arrastando seus chinelinhos até a cozinha para fuçar a geladeira.


Apropriação indevida de gentilezas, roubo de mérito alheio, manifestação despudorada de cara-de-pau? Isto é impulse!


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