quarta-feira, 6 de março de 2013

Essa menina, tão pequenina, quer ser bailarina


Cecília Meirelles sabia das coisas. Não importa quão pequeninas as nossas meninas sejam (e elas sempre serão), vão amar bailarinas desde sempre.

Tá, mentira, que soy contra generalizações de todo tipo. O fato é que aqui em casa existe uma menininha fascinada por bailarinas - filha da mãe dela, aliás. Eu fui uma criança absolutamente delirante com essa coisa de balé, me achava a graciosidade suprema do planeta Terra. A dura realidade era essa:


Praia do Bonete, 1984. Essa menina tão pequenina quer ser bailarina, coitada. Alguém avisa?


Bom, a Alice pede para fazer balé desde aprendeu a andar (ou a pedir, não lembro o que veio primeiro). Por circunstâncias da vida (idades, horários, escolas, semestres, dinheiros, etc) fomos enrolando, adiando, esperando ela crescer um pouquinho. O que achei muito bom, pois permitiu que ela fantasiasse à vontade com o tal do balé. Para ela, ser bailarina significava atirar pernas e braços para todos os lados com um olhar languido e depois rodopiar até ficar bamba (filha da mãe dela, hehe!). Uma vez ela armou um showzinho junto com uma amiga que já fazia balé, e a diferença era gritante: enquanto a amiga dançava muito compenetrada uns passinhos bem marcados, Alice girava e saltava como uma borboleta alucinada. Ambas adoráveis, claro, mas a liberdade da dança da Alice me comoveu, e eu sabia que essa espontaneidade sumiria no instante em que ela fizesse a primeira aula. Pois é, a vida tem dessas.

Eis que, aos 5 anos e meio, o grande dia chegou. Numa emoção incontrolável, a mocinha vestiu o collant preto, a saia rodada, as sapatilhas e um sorriso de orelha a orelha, e foi à luta! Não precisou da minha ajuda: foi entrando na sala e se aproximando devagar das outras meninas, com os olhões arregalados e um riso nervoso, enfrentando uma timidez que não a impediu de fazer esse primeiro contato. E eu ali roendo unhas, tensa com um dos maiores desafios sociais dela até então - porque não sei se é impressão minha, mas já percebo nas turmas de 6, 5 anos aquela coisa um pouco hostil de grupinhos fechados, um comportamento quase pré-adolescente de excluir, maltratar, competir, sacanear. Tive medo da recepção da minha pequena por aquele grupo já formado, de meninas um pouco maiores. 

E fiquei vendo por trás do vidro, com cara de besta e pronta pra invadir a sala e dar na cara da primeira que se fizesse de engraçadinha com o meu bebê, a minha menininha sendo muito mais corajosa e hábil do que eu sempre fui em situações parecidas. Alice se aproximando. Alice sorrindo simpaticamente. Alice, meu deus, puxando papo! Filha da mãe dela uma pinóia, né? Ela me deu um pau federal, que eu sou banana desde criancinha! You go, girl! 

Além de conhecer a notável habilidade social da minha filha, nesse dia também fui apresentada à dedicação, à concentração, à vontade de acertar da pequena. Dei tchau para a espontaneidade doida dela e boas vindas para essa disciplina que percebi que ela tem, esse prazer de se levar a sério e saber que está fazendo um bom trabalho (e filha da mãe dela my ass, sou um caos de criatura, careço muito de disciplina e seriedade nessa vida). 

Toma essa disciplina, esse olhar centrado, essa perninha caprichosamente embutida na saia! 
E isso foi um dia antes da primeira aula, hein?


E foi assim, com a testa colada no vidro, que conheci mais um pouco da pessoinha ótima que a Lila está virando, cada vez mais livre das minhas asas e do meu olhar protetor. Então engoli as lágrimas pra não ser a mãe louca que constrange a filha na frente das (novas) amiguinhas, corri para a sala ao lado e fiz uma aula de pilates, pra disfarçar. Aula esta que me rendeu DOR DE GARGANTA, pode isso produção? Dor muscular na garganta foi algo completamente inédito para a minha pessoa, e eu já passei poucas e boas, viu?

Enfim, eu podia extrair desse episódio uma metáfora sobre o amadurecimento, ou uma lição sobre a não-determinação dos genes sobre a personalidade de uma criatura - mas a  principal conclusão desse post é que, de uma filha corajosa pacas a uma dor de garganta inusitada, a vida é cheia de surpresas. É ou não é?

37 comentários:

  1. pra variar... amei.

    e palmas para as bailarinas. a do boonete e a de hoje.

    bjocas

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    1. A do Bonete está prestes a botar as sapatilhinhas de fora, Carol! Descobri que antes da aula das pequenas tem balé para adultos! Uepa, vão ter que me engolir, tralalalaláááá! (saltitando nas pontas dos pés, alguém me segura?)

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  2. Se a filha dançar tão bem quanto a mãe escreve...

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  3. Linda bailarina! Logo vc vai morrer do coração qdo ela estiver se apresentando no palco. Já pensou nisso? Bjo

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    1. Pelamor, Alice num palco, posso nem pensar! ai céus, me abraça? ;)

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  4. acho q a dor na garganta foi de segurar a emoção, não foi não? Lindo relato...é sempre assim, de repente a cria bate asas e a gente fica assim, com cara de bobo olhando eles voarem!!!

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    1. Opa, faz sentido! A professora do pilates falou que essa dor era normal nas primeiras aulas (dor-de-garganta! não me conformo...), mas bem que jogar chororô goela abaixo deve ter atrapalhado, né? Muy perspicaz sua observação...

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  5. Ô lindeza!!!!
    De mãe e filha!!!!!!!!!!!
    Bjo!

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  6. Olá,

    todos temos sonhos que alimentaram nossa alma. Isto é muito legal.

    Depois fica adulto....

    Leia este texto: "Toda mãe deve aprender a se valorizar perante os filhos"

    http://www.psicologiaracional.com.br/2012/04/toda-mae-deve-aprender-se-valorizar.html

    Bye!

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  7. Chorei. E isso, pode Arnaldo?

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    1. Num mundo em que pilates causa dor de garganta e minha filha (again: mi-nha-fi-lha!) aparentemente tem talento para o balé, tudo é permitido! Né não?

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  8. owwwnnnn.... que lindeza......

    eu entendo totalmente qdo vc fala da dança descompassada, da graciosidade da falta de ritmo, da dança da borboleta louca... é tão lindo e genuíno. Mas ao mesmo tempo, tão infantil. Quando vemos nossos filhos crescendo, vemos que eles têm disciplina, que nos entendem, que são, veja bem, diferentes de nós!!! COMOASSIM??? Pois são.

    Que ela seja muito feliz com o ballet, enquanto for a praia dela. Se um dia quiser jogar capoeira, que seja feliz por lá tb!

    Beijos grandes!

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    1. Dani, eu babo com essa leveza, essa coisa espontânea e destrambelhada que eles exibem tão orgulhosamente! Pra mim é meio doído ver isso indo embora. Por outro lado, tão lindo perceber a maturidade chegando, né?
      Ai, te prepara! É uma voadora no coração por dia, gata...
      Beijoca!

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  9. Que lindo, Mariana!

    Leio seu blog desde antes do Lucas, mas raramente comento. Escreva mais, menina! Tá fazendo falta!

    Que a espontaneidade não se perca com a chegada da disciplina. E que a Alice curta muito a nova (?) paixão e as novas amigas.

    Beijos!

    Raquel

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    1. Raquel, tô tentando, juro! Tenho vários rascunhos pra finalizar, mas cadê tempo, ânimo, e principalmente a tal da disciplina? Preciso aprender com a filhota!
      Beijo - e obrigada por não desistir de mim, hehe... ;)

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  10. Eu adoro quando os filhos nos surpreendem! Acho sensacional vc temer que ele seja que nem você e de repente ele a supera! Tive uma boa dose dessa experiência e me enchi de orgulho. Imagino o seu queixo caído pela pequena. Muito bom!

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    1. Né? E tão cedo... acho que eu esperava que Alice me surpreendesse, sei lá, aos 18?, 25?, 40? Mas aos 5, gente? Quem pode se preparar pra ver a mocinha te dar um baile aos 5???
      Só me resta aplaudir - e babar (e blogar!).

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  11. Cada vez que leio um post teu (e pena que não são mais frequentes!!), me lembro pq eu fiquei tão interessada na blogsfera materna mesmo antes de ter filhos (agora tenho uma de 1 ano e 3 meses). Teu blog foi o primeiro que comecei a acompanhar. Agora muitos blogs foram tomados por uma militancia muito chata. A D O R O teus textos,mesmo quando se tratam de assuntos sérios tem uma leveza e não tem tom de julgamento! Beijão

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    1. Ana, eu lembro tanto de você! Sua carinha é super familiar - e de outros carnavais, né? Realmente vc aparece por aqui faz tempo...
      Que delícia que agora você tem uma pequetita! Só falta o blog, cadê? ;)
      Beijão e obrigada pela mensagem!

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  12. Mari, para mim, você é a melhor das blogueiras! Impossível não ser cativada pelo seu jeito de escrever. Como a Ana disse, despido de militâncias que julgam. Como suas histórias simples têm me ajudado nestes 6 meses de maternidade. Coisas que talvez me assustassem, mas que, antecipadamente, havia lido por aqui. O jeito de levar as coisas na esportiva e com leveza! Pena mesmo que não escreva mais com frequência...

    Sobre o post, amo bailarinas, mas o talento passou bem longe de mim. Espero que minha princesa se identifique e queira fazer aulas. A postura, a delicadeza, a concentração e a disciplina são tão lindas nas bailarinas...

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    1. Ô Pati, obrigada pela mensagem! Aprender a não julgar e olhar para outras mães com um olhar generoso (e solidário, porque né?) foi uma das grandes lições que a maternidade me trouxe... tô aprendendo!
      Sobre a filha bailarina, veja só, é possível mesmo para nós, as desprovidas de talento! Ou será que e tudo cegueira de mãe e Alice é tão boa bailarina quanto a minha mãe achava que eu era? Pra se pensar...
      beijão!

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  13. Oi, Mari! (alá a íntima?)

    Olha, eu leio seu blog há muito tempo e indico para todas as amigas grávidas (apesar de nunca ter comentado...) Aliás, quando a primeira engravidou sem querer (há 2 anos) eu já era encantada por esse mundo e pelo seu modo de ver as coisas. De lá pra cá, mais bebês vieram ao mundo, casei, virei madrinha (gente? que lindo!) e agora penso em ter os meus. Quer dizer... sempre pensei, agora tô na fase de planejamento, rs.

    Disse tudo isso e não disse nada, né?

    Enfim. Só queria me apresentar mesmo, você nem me conhece e eu me sinto íntima da família (que bebês lindos!).

    Linda linda a Alice bailarina. Imagino o orgulho...

    Enfim. Prometo voltar sempre e tentar comentar mais!

    Beijos

    Anabelly

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    1. Opa, muito prazer! Volte sim, please - inclusive pra contar a novidade que, pelo jeito, tá se aproximando... nhóim! ;)
      beijão!

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  14. Olá
    Sou fã deste blog! Continuem a fazer este trabalho de partilha maravilhoso!
    Aproveito para divulgar um site que gosto muito. Um Google para famílias! Basta colocar o nome e os favoritos de cada elemento da família.
    family-google.com

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  15. Mari, que emoção!
    Os filhos sempre nos surpreendem, não? Acho que é vício de mãe achar que são sempre bebês quando, na verdade, estão indo mais longe que sonha nossa vã filosofia.

    Linda a Alice toda compenetrada, se levando a sério. E sabe? Acho que ela vai saber dosar bem a espontaneidade com a disciplina. As duas podem coexistir. É dessa mistura boa que nascem as artes, ué!

    Já eu super me identifico com você. Levaria um pau da Alice e também careço loucamente de disciplina, essa danadinha fugidia. Me levo muito a sério onde não preciso e onde preciso, quedê disciplina? Quedê talento, habilidade, jogo de cintura?

    Anfan, vamo-que-vamo aprender com os filhos (cê acredita, gata, que o meu bebê resolveu agora conversar comigo sobre sentimentos? Ele mal aprendeu a falar, mas já nomeia tudo o que sente e sempre vem me contar, muito sério, como anda seu humor???? #comoledar?)

    bjos

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  16. Que bom ver você por aqui! Matou a saudade dos seus posts.

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  17. Que lindo texto, tão bom ver os filhos crescendo e sendo eles mesmo, né?! Sempre uma surpresa,uma sensação nova, que continue sendo boa!
    bjs,
    Carolina,
    https://osfilhoscrescem.wordpress.com/

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  18. Que lindo post, Mari! Chorei! Realmente é lindo ve-las crescendo e passando por situacoes que colocam em cheque tudo que a gente ensinou. Minha pequena tambem comecou na natacao ha pouco e com somente 2 aninhos enfrentou o novo ambiente, nova tia, novos amigos muito bem. E eu, bobona chorando do lado de fora. Parabens pra vc pela filha linda! Ela pode nao ter puxado a sua genetica, mas boa parte do que ela é hoje ela aprendeu com voce.

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  19. Me emocionei com o texto por ser apaixonada por ballet desde os 6 anos. Passava em frente a uma escola de dança que tinha na minha rua e ficava querendo entrar. Minha mãe também adiou, mas quando comecei foi A felicidade em forma de criança. Fiz ballet por dez anos e hoje estou grávida de uma menina. A primeira coisa que pensei foi "tomara que ela também ame o ballet!" E eu estrei lá, como você, pronta para babar, incentivar, aplaudir. Como filha sei o quanto é importante esse apoio dos pais. Parabéns!

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  20. Mari,
    que bom que Alice está tendo aulas de "Ballet com amor"! Infelizmente não tive essa sorte: http://maeperfeita.wordpress.com/2013/04/26/sobre-ballet-e-bullying/
    Um beijo!
    Marusia

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  21. Ainda me matricularei no Ballet...,
    Amei cada detalhe!
    Bj

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  22. Passei por aqui para contar que já estou na quinta aula, e vc??? Fez a matricula?
    Beijos e obrigada pelo incentivo

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  23. Kkkkkkk...e o que eu Faço Agora produçao?
    Virada no madrugadão (sim, pq meu pequeno de 1 mes resolveu que a noite é mais legal)
    Não consigo dormir, pq não consigo parar de ler este blog...e Consequentemente não consigo parar de rir...sensacional...

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  24. Estou amando este blog, não consigo parar de ler.

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