A primeira vez que eu saí pra passear com Alice, me senti uma impostora. Era como se algo estivesse fora do contexto, como se eu andasse pela rua empurrando um carrinho de supermercado ou coisa do tipo. Uma má atriz interpretando um papel que não combina, sabe? Alguma coisa fora de lugar. A verdade é que o papel de mãe demorou um pouco pra servir pra mim.
Porque eu achava que não tinha vocação pra coisa. Eu cresci entre moleques, brinquei como um moleque e a única Barbie que tive na vida perdeu os braços no dia em que saiu da caixa. Brinquedo pra mim era Comandos em Ação e Escrete. Quem podia imaginar que eu seria a primeirona da turma a ter um filho – e de propósito? Mais ainda: quem podia imaginar que eu viraria uma supermãe convicta, dessas que fazem propaganda e campanha pras amigas engravidarem logo? Pois eu virei.
As pessoa me dizem que, como mãe, estou sendo uma bela surpresa. Acho que sim. Dois meses e meio e eu ainda não bati com a cabeça da Alice, não deixei a cara dela cair dentro da água do banho nem tirei um naco de pele na hora de cortar as unhas. Ela está crescendo gordota, saudável e simpática e todos se apaixonam por ela instantaneamente - como haveriam de não se apaixonar, fofa que ela é? Então, por incrível que pareça, estou cumprindo a missão direitinho.
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Sabe aquele papo de que quando nasce um bebê nasce também uma mãe? Falta dizer que ambos, mãe e bebê, não estão de forma alguma prontos quando nascem. É depois de uns bons meses e muito choro de ambas as partes que a coisa começa a funcionar direitinho. Isso derruba aquele mito do instinto materno no sentido de que somos mães prontinhas, infalíveis e incondicionalmente amorosas no instante em que nasce o filho. O instinto existe sim no sentido de proteção, de você de alguma maneira saber garantir a sobrevivência daquele ser tão pequenininho. Mas aquela aura de mãe, aquele amor instantâneo que eu achava que ia me arrebatar no instante em que olhasse pra Alice, esse não foi bem assim.
Enfim, tudo isso pra dizer que ser mãe é coisa que se aprende. Ser e gostar de ser. A gente chora, se descabela e bate cabeça, até que um belo dia se dá conta, sem dúvida nenhuma, que nasceu pra isso.
Mari, sabe que eu demorei quase um ano e meio para chamar o theo de "filho". Palavra forte essa não! Mas aí começa a sair com aquele orgulho, boca cheia, para todo mundo ouvir. Deve ser normal..acho que esse aprendizado é o que constroi este amor imenso que a gente sente. bj
ResponderExcluirPois é. E quando a gente se dá conta, tá falando do nosso filho pro taxista, pra manicure, pro dentista, pro pessoal da fila do banco...
ResponderExcluirOi, eu não pude deixar de comentar... este seu texto é maravilhoso, tudo que eu sempre senti... obrigado!
ResponderExcluirSeu blog é muito legal. Vim parar aqui por acaso, mas agora não paro de ler. O mais engraçado é que muitas coisas que aconteceram com vc, parece até que sou eu que estou escrevendo. rsrsrs
ResponderExcluirParabéns!!!
Amei seu texto. Pensei que só eu é que "não tinha" o tal do instinto materno quando minha filha Alice nasceu...
ResponderExcluirTudo o que eu sinto... incrivel... tb acho que não nasci pra ser mãe, mas vou aprender...
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