terça-feira, 12 de agosto de 2008

:: Dos Medinhos


(para Olly)


Eu não sei que tipo de mecanismo regula esse fenômeno, mas ele existe: mulheres à beira de dar à luz perdem o medo do parto.

Chocante!

Parir é um dos cagaços universais da mulherada (converse com meia dúzia de amigas pra saber), mas na hora do vamos ver a gente entra em comunhão com a Mãe Terra, encarna a deusa da fertilidade e adquire a calma de um Rinpoche. Entrou tem que sair, baby. É a lei da natureza. Então a gente se resigna e acha lindo e diz amém. Tenho visto muito isso acontecer, aquelas grávidas estourando de barrigudas e com aquela expressão serena de quem sabe o que ninguém mais sabe. Cara de informação privilegiada, sabe como? Uma calma transcendental. Não sei que milagre é esse, mas acontece. A invenção da anestesia deve ter alguma coisa a ver com isso.

É bom que seja assim, porque a mulher grávida é por definição uma criadora de pavores criativíssima e incansável.

Há os medos-padrão: medo da responsabilidade, da mudança de vida, de botar um filho no mundo doido de hoje, da criança nascer com algum problema, 6 dedinhos nos pés, etc etc. Esses são universais e relevantes e continuarão existindo até o fim dos tempos. E existem aqueles medinhos específicos de que pouco se fala. São medinhos fúteis, que abafamos pra não parecer que estamos invertendo o valor das coisas. Como todo mundo diz, o importante é vir com saúde, o resto é lucro. Claro. Mas o resto é importantíssimo quando a grávida é você. E dá-lhe medos fúteis: e se a anestesia não pegar? E se eu fizer cocô na hora do “empurra, empurra!”? E se meu filho nascer feio e eu não conseguir mentir que achei ele bonito? E se a barriga não voltar e eu ficar buchuda para todo o sempre? E se meu filho continuar careca e gengivudo até a pré-escola?

E o peito rachado? Céus! Só o termo já dá arrepios. Conforme a gravidez avança também avança a necessidade mórbida que os outros têm de te assustar, e você descobre que o parto não é nada comparado com a primeira semana de amamentação. Porque demora pro peito engrossar, ficar cascudo e a prova de puxões (e aí você pensa: o que é pior, peito cascudo ou peito rachado? Sinuca de bico...). Os relatos são pavorosos: o bico sangra, as mamas (reparem que peito de grávida sempre vira “mama”) endurecem, vem uma bactéria e faz o leite virar polenguinho. As mães choram, batem o pé e fazem careta – mas não tiram o filho do peito, que espécie de mãe tiraria? 

Nesse ponto eu já estava considerando seriamente contratar uma ama-de-leite e pensando aqui comigo: pra quê caralhos eu fui resolver parir um filho, pra quê??

Anyway, eu pari. Parto normal, com anestesia, tudo muitíssimo tranqüilo. A barriga voltou ao que era. Meu peito ficou esfoladinho e dolorido mas não chegou a rachar. Minha filha tem cabelos, dentes e 5 dedinhos em cada pé. E é incrivelmente linda, na minha modesta opinião, que é a que importa nesse caso. 

O mundo é esse que a gente conhece, infelizmente. Cheio de gente, mas carente de gente legal - taí um bom motivo pra enchê-lo de crianças bacanas, educadas com amor e responsabilidade.

A vida muda sim, muito. Óbvio que a reação a isso é absolutamente pessoal, mas pra mim foi muito mais pro bem do que pro mal. E olha que eu não faço o tipo maternal, não mesmo. Tive dúvidas da minha capacidade e vontade de ser mãe até praticamente anteontem. Mesmo sem me sentir preparada, encarei. E tá sendo ótimo! De alguma forma maluca você se adapta, dá um jeito, cria um esquema e mantém o que tinha de essencial do seu cotidiano - vide mães baladeiras, mães executivas, mães viajantes e etc. Passados os primeiros meses, a gente nota que a vida continua. Simples assim. O mundo não parou pra você parir, de modo que você volta pra ele rapidinho, como sempre foi. Só que agora, com uma criaturinha fofa sorrindo e te estendendo os braços todo dia de manhã.

Enfim, não tô aqui pra fazer o lobby da maternidade. Ter ou não filhos é uma opção, e acho validíssimo os que decidem não tê-los. Mas que seja por convicção e vontade, e não por medo. Porque medos estão aí pra serem superados. A gente tem medo mas segue adiante, fazer o quê? Ficar paralisada é que não pode. E o melhor foi ver que, pelo menos até aqui, meus medos foram todos infundados. 

(Menos o do cocô no parto.)


7 comentários:

  1. Oh Mari... Muito lindo e sincero seu texto...
    Vou ficar paralisada não, mas muito obrigada pelo choque de realidade! Amei!!!!

    E pode deixar, quando eu ficar grávida, te peço um depoimento no meu chá de bebê!!!!

    beijos amore!
    Olly (a medrosa)

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  2. Menina! Adorei! Mas não tirou meus medos... estou na 29 semana, falta pouco, é meu primeiro filho, ai, ai, ai.
    Só passei aqui para dizer que sou fã do seu blog, e me divirto com suas experiências.
    Parabéns!
    Beijos,
    Marcella

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  3. Olly: o que eu não mencionei no texto foi que eu sou das pessoa mais cagonas do planeta, haha! sei lá como, mas quando precisa a gente cria bolas.
    e parto normal é bem tranquilo com anestesia, juro!! depilar virilha é mil vezes pior.

    Marcella: adorei!!
    29 semanas é cedo, o medo passa com umas 35, haha... volte sempre e dê notícias, please. e aproveita muuuuito o barrigão, que é uma delícia!

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  4. medo de quê gente!
    eu tenho 24 anos, engravidei sem planejar, sem trabalho (pq me mandaram embora pois estava gravida) e sem dinheiro nenhum... fiquei até 5 meses sem as familias saberem da gravidez por medo.tive dor de dentes absurdass no começo, e juro, doeu mais que o parto que foi normal, sem nenhuma analgesia, nunca tive medo de nada, mesmo sem grana, sem trabalho, nunca tive medo, medo do que? hoje em dia as pessoas convenceram realmente as mulheres de que elas não são fortes suficientes pra parirem, terem filhos, e uma vida de mãe, peloamor! meu marido é músico, eu sempre tive uma vida agitadíssima, saía todos os dias, viajava com a banda etc... e continuo fazendo tudo isso, mas de uma forma diferente, mais tranquila, vou as festas, viajo,vou ao cinema, ando de metrô,de barco, de avião, saio de noite, tudo com a minha bebêzinha... e ela adora e os amigos adoram, e tudo mudou a minha volta desde que engravidei e ela nasceu! medo de quê? de uma vida melhor?

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  5. Adorei! Lindo isso! E eu vou te falar: não tenho filhos, mas sei do que vc ta falndo... Já tive medo de tantas coisas mas as fiz mesmo assim: Medo de morar fora do País, medo de abrir me proprio negócio, medo de sentir saudade, medo de terminar um namoro... Medo foi feito pra que a gente olhe em volte, se questione... É bom mesmo quando é ruim!!!

    Beijooooooo

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  6. só mais um pequeno comentário sobre alguns de meus medos: tenho medo de cobra, escorpião, aranha venenosa, morrer queimada e afogada (não sei nadar) de resto, não tenho medo de nada... hehe =)

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  7. AMEI!!! Tenho um lindo menino de 6 meses, e ao ler seu post parece que voltei no tempo para dias antes do parto. Eu morria de medo da anestesia. Esta história de agulha na minha coluna, não era para mim! E não é que no dia, foi tudo tão tranquilo! Agora, amamentar, no começo, foi jogo duro! Nunca imaginei que iria amamentar meu pequeno chorando e falando um monte de palavrões.. Pois foi assim por 40 dias.. Mas, concordo com você, quando diz que vale a pena!
    Voltarei aqui muitas outras vezes.
    Um beijo
    Gabi

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