quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

:: Com a palavra, o anônimo.


Sobre a história aqui embaixo, um anônimo disse assim:


"A história está toda modificada... não houve preconceito... apenas pais querendo se promover as custas da filha...

isso é típico de pessoas que vem de cidade grande e se acham superiores as pessoas da "cidadezinha do interior"...

conheco a história correta e também a escola em questão... 

Escola que por sinal é referencia na cidade... muito boa... e muito bem acompanhada por profissionais de verdade...

antes de publicarem qualquer materia, um reporter DE VERDADE... PROFISSIONAL deveria estudar a fundo o caso... antes de tomar qualquer partido...

nem tudo q se le na internet é a mais pura verdade." 



OK, vamos lá: 

Segundo ele, a história foi modificada. Fica difícil pra gente entender porque ele não explica o que foi modificado, apenas aponta o dedo para os pais dizendo que "querem se promover". Aí vem um papinho sobre o que é típico de pessoas da cidade grande em relação às do interior, mas não sei nada sobre isso e acho uma discussão meio besta e que não cabe aqui.

O anônimo acha que um repórter de verdade deveria estudar a história mais a fundo. Então fui reler a matéria da revista Crescer. A jornalista que assina a matéria diz que tentou falar com a proprietária da escola, que primeiro disse que desconhecia o caso e depois se recusou a falar por telefone, querendo que a jornalista fosse até a cidade de Três Lagoas,  no Mato Grosso do Sul, para colher seu depoimento. Olha, não sei qual é a orientação da Crescer (cuja redação fica em São Paulo, acho) para um caso desses, mas me parece um pouco esquisito a pessoa ter que se despachar pra outro estado pra colher um depoimento que poderia ser dado por telefone, email, skype. Eu, se fosse essa repórter, ia desconfiar seriamente que a dona da escola não estava a fim de papo comigo não. Mas, como jornalista séria, não deixaria isso afetar meu trabalho e descreveria na reportagem exatamente o que apurei: os pais da criança dizem tal coisa, e a escola não se pronunciu pra dar sua versão. Porque, atenção, anônimo: ela diz que os pais relatam tal coisa, e não que aconteceu tal coisa. É diferente, e acho que mostra uma postura profissional e cuidadosa por parte da repórter. Então, a não ser que seja tudo mentira deslavada dessa repórter, que anda conspirando com os pais da Isa pra derrubar a escola, vou discordar de você nesse ponto em que você ataca a jornalista, tá?

Nem tudo que se lê na internet é verdade. Concordo plenamente com isso. Aliás, isso vale pra mídia de forma geral. Mas no caso da internet, é principalmente porque nela a gente não sabe direito quem está por trás das coisas. Tipo nesse caso. Um anônimo escreve pra dizer que a história foi modificada e que ele conhece a verdade, mas não sabemos quem ele é, nem que verdade tem pra contar. Meio esquisito, né? Talvez seja um desafeto de infância da Fabrina querendo se vingar por uma briguinha na segunda série. Talvez seja a dona da escola. Talvez seja uma mãe de aluno preocupada com a reputação da escola, ou alguém que ache tudo uma grande bobagem porque afinal futebol é mesmo coisa de menino e balé de menina, ora bolas! Ou pode ser alguém que acompanhou os fatos de perto e viu que não foi bem assim e que uma injustiça contra a escola está sendo cometida. O problema é que se essa pessoa não se identificar a gente não vai conseguir levá-la muita a sério, certo? Então eu ia achar ótimo se ela contasse sua versão e contasse quem é e como sabe de tudo. Porque eu só conheço a história pela matéria da Crescer. E esse blog não está comprometido com a revista Crescer, nem com a Fabrina e o Lucas, nem com a escola Doce Infância, pra eu tomar partido e cometer uma injustiça com qualquer um dos lados. E pra falar a verdade, qualquer que seja a verdade dessa história, pro blog vale mais a discussão que ela levantou, a dos papéis sociais que são impostos para homens e mulheres desde muito cedo. 

Agora, eu confesso que entre uma história que é absolutamente verossímil, de gente que mostrou a cara e assinou o nome e outra, mal explicada, cheia de teorias conspiratórias esquisitas envolvendo "pessoas da cidade grande" e "pais querendo se promover", e vinda de alguém que não se identifica, eu fico com a primeira. Você, anônimo, na minha situação, também não ficaria?

Então fique à vontade pra contar o que sabe, tá? 

Pela atenção, obrigada.

13 comentários:

  1. Mariana
    Leio seu blog faz mais de um ano e achei essencial a discussão trazida pela reportagem.
    Sem dúvida o anômino não percebeu que na verdade o que estamos debatendo é o papel dos homens e mulheres. Essa pessoa reduziu o assunto à uma futriquinha mundana.
    Fiz questão de comentar sobre esse post porque tenho horror a pessoas que se utilizam de forma tão mesquinha e pequena do anonimato. Quer dar uma opinião, ótimo! Mas se posicione e se banque!

    Parabéns pelo blog e pela filha mais lindica!

    Isabela Guimarães Del Monde

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  2. Mari, é isso aí. Achei a discussao tao importante que a levei pra casa, li a matéria junto com o marido e, mesmo antes de termos um filho, já tivemos a oportunidade de conversar sobre os valores que queremos passar pra outra pessoa.

    Em um ambito mais local, concordo que o ideal seria que a história fosse totalmente esclarecida, portanto, senhor anonimo detentor da informacao privilegiada, conta ae!

    gostei mto da ideia da Isabela aqui em cima e tb assino meu nome embaixo:

    beijos,
    Carolina de Oliveira Guimaraes Pacheco

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  3. Mari, seu post foi excelente, explicou direitinho o que um bom repórter deve fazer, explicou o motivo de vc ter trazido à tona esta discussão tão importante e explicou que adulto dá a cara para bater quando tem opinião formada sobre algo. Parabéns! Beijos.

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  4. uhu! boa.
    além de refletirmos, a partir do outro post, sobre questões de gênero, papéis sociais, a função social da escola, a importância do bom jornalismo e das fontes de informação, de quebra, ainda podemos discutir sobre ética na internet e a validade de certos comentários anônimos.
    ataques vazios não tem lugar em blogs pensantes.
    beijo grande, ótimo natal!
    tha

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  5. Mariana, você arrasou com este post, falou tudo! Agora estou ansiosa esperando a resposta do Sr. Anônimo.

    Parabéns!

    E deixa eu ir ali bater uma bolinha enquanto Arthur está no balé (brincadeira, porque sou péssima de bola e Arthur adora a pelota, mas eu acharia o máximo se fosse verdade!)

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  6. Querida Mari,
    Sou leitora assídua de seu blog. O descobri em 2008, quando estava grávida da minha Alice e desde então não perco mais nenhum post (além de ter lido também todos os antigos postados antes de minha descoberta). Acompanhei suas aventuras na França, sua volta para o Brasil, a Alice na escola, enfim. Já me sinto muito íntima sua, embora você não conheça nem a mim nem a minha Alice (que acaba de completar 1 aninho). Quero te dizer que, neste clima festivo de final de ano, senti-me ispirada a te dizer que você teve participação intensa nesse 2009 que se vai, o ano em que experimenteu intensamente a maternidade e me senti abençoada pelo amor da miinha filha, que, como já comentado posts seus, é um amor que cresce e cresce a cada dia. Tive também um ano muito intenso e muito contraditório, porque embora tenha experimentado a maior alegria do mundo, também tive grandes tristezas. Primeiro, aos 10 dias de parida separei-me , tive mastite, que desenvolveu para um abcesso na mama, com volta ao centro cirúrgico, com direito à anestesia geral. Depois disso, minha irmã mais velha veio pra minha casa para cuidar de mim, adoeceu e dois meses depois faleceu, depois veio a volta ao trabalho, deixar a Alice em casa com a babá e toda essa contingência inerente à insensibilidade deste mundo que não percebe a dor dos nossos corações maternos em sair e deixar a cria em casa. Coragem!!! Enfim, gostaria de compartilhar um pouquinho do meu ano de 2009 com você e dizer que Deus é muito bom porque me deu a Alice, já que sem ela ao meu lado... Gostaria de lhe parabenizar pelo blog. Gostaria de lhe dar um abraço de feliz natal e de feliz ano-novo. Sucesso, saúde e paz, pra você, pro Carlos e pra Alice.
    Beijos
    rlg.t@hotmail.com

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  7. Quando crescer quero escrever que nem você. E ter essa coerência também.

    Feliz Natal pra vocês!

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  8. caramba ! post muito bem elaborado e esclarecedor!
    ´parabéns !
    por manter sempre este blog assim !

    feliz Natal pra vocês

    beijocas.

    nat do demaeparamae.blogspot.com

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  9. Maravilha, o Sr. anônimo nos presenteia com uma grande oportunidade de ler mais um texto sensacional da Mari. Parabéns!
    Como gente grande, vamos ensinando nossos filhos a pensar e não se limitar a crítica vazia.
    Valores...nunca vou esquecer de um fato da minha infância (no interior viu Sr. anônimo). Minha mãe começou a receber umas cartas anômimas que falavam um monte de bobagens sobre meu pai. Depois da primeira carta, que poderia levar a uma série de conflitos entre eles, os dois nos contaram e disseram que nunca devíamos dar crádito a quem não tivesse coragem de assumir sua própria fala. Receberam mais algumas cartas que nunca chegaram a abri, rasgaram ainda fachadas. As cartas deixaram de chegar nada aconteceu. Meus pais são casados há masi de 40 anos.
    Bjs!

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  10. Legal o post, Mari. Realmente não dá pra levar a sério uma pessoa que não assume a responsabilidade pelo que fala e, além de tudo, ainda passa informação pela metade.
    E pra mim ainda sobrou uma dúvida: como assim se promover? O que eles ganhariam falando sobre o ocorrido na escola? Fama, sucesso e dinheiro? Duvido muito.

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  11. Clap, clap, clap!
    Como jornalista posso dizer que, cabe sim a todas as partes citadas o direito de se pronunciar e também, de se calar. Isso depende da postura de cada um. No entanto, a pauta tem que ser clara, para saber se é ou não, conveniente dar seu depoimento, entrevista, etc, etc.
    O anonimato é a forma mais "fácil" e covarde de apontar. Difícil mesmo é dar a cara para bater, colcoar nome, sobrenome, e-mail, sinais de identificação real e assumir a responsabilidade sobre atos e opiniões. Também "sofri" um ataque de comentário anônimo no meu blog, quando relatei uma experiência pessoal, repito, pessoal, opinativa, sobre os sucos de soja.
    Então, acredito que a revista Crescer tem um compromisso sério, trouxe a tona não só o caso da menina e o futebol, mas uma discussão que pode estar acontecendo em qualquer parte, mas para o Jornalismo é necessário a personagem, que traduz o assunto em si.
    Mariana, os posts estão na mais perfeita ordem! Adorei-os!
    Bjs e feliz natal!

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  12. Oi, o anoônimo ai sou eu, deu tilte na hora de postar o comment.

    Ronise

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  13. Olá Mariana.

    Fui eu quem escreveu a matéria para a Crescer e estou muito satisfeita com a repercussão que a história da Isa está tendo. E você está ajudando a levantar uma questão que sempre existiu, mas nunca foi discutida tão abertamente.

    Sobre os comentários da pessoa X que afirmou que não sou uma repórter de verdade, afirmo que ouvi os pais da menina, especialistas e dei toda a oportunidade pra escola se defender: é assim que se faz jornalismo.

    Caso o anônonimo quiser contar a história que sabe, estou à disposição. Mas sem opiniões pessoais ofensivas ou feitas no escuro, porque agora eu me reverso o direito de dar a minha: os pais da Isa JAMAIS se promoveriam às custas da própria filha. Eles são exatamente o tipo de pessoas que eu quero ser como mãe e que um dia eu quero que meus filhos sejam.

    Obrigada.

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